quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Telemóvel e Criminalidade: Burla com Recurso aos Serviços de Conta Móvel da Vodacom (M-Pesa) na Cidade de Maputo


Trabalho elaborado pelo estudantes do curso de licenciatura em Antropologia da Universidade Eduardo Mondlane (Moçambique) na disciplina de Sociologia do Crime.

Autores: António Vilanculo e Hélder Luís

1.     Introdução

O presente trabalho aborda sobre as burlas com recursos a conta móvel da Vodacom (M-Pesa) na cidade de Maputo, um fenómeno visto como crime que deriva da introdução de serviços de conta móvel que são administradas pelas empresas de telefonia móvel.

Para a sua realização, fizemos uma pesquisa onde analisamos os dados com base numa das teorias de crime estudadas na cadeira de Sociologia do Crime. Neste sentido, a teoria usada para explicar a realidade constatada é a estrutural - funcionalista de Robert Merton, por ser a que melhor se adequa a realidade constatada. 

Depois desta breve nota introdutória, apresentamos o problema da pesquisa e a justificativa; de seguida apresentamos os objectivos e a hipótese; em terceiro lugar, mostramos os procedimentos metodológicos seguidos; em quarto, fazemos o enquadramento teórico e definimos os principais conceitos; em quinto, apresentamos e analisamos os resultados obtidos; e por fim apresentamos as conclusões.

2.     Problematização

A evolução da tecnologia que tem sido agregada à telefonia móvel como recursos de envio de mensagens, fotos, filmes e dados, gravação de voz, reprodução de arquivos de áudio e, mais recentemente, o serviço de conta móvel.

Segundo Sá Garay (2015) o telefone móvel é o meio mais prático, rápido e acessível de comunicação actualmente, sendo amplamente utilizado por grande parte da população mundial. Com tantas vantagens, é evidente que o telefone servirá também como instrumento para actividades criminosas, servindo como um instrumento que facilita os delinquentes a cometerem crime.

Como corolário da introdução de conta móvel nos serviços de telefonia móvel, temos, dentre vários, o m-pesa como um dos serviços mais proeminentes de conta móvel em Moçambique que é suportado pela empresa Vodacom. Entretanto, a nossa preocupação esta na compreensão dos mecanismos de burla com recurso ao uso deste serviço.

2.1.Pergunta de partida

A partir de episódios de burla envolvendo pessoas burladas e com recurso à serviço de conta móvel da Vodacom (M-pesa), pretendemos saber as diversas formas que os delinquentes usam para burlarem os indivíduos a partir de depoimentos das vítimas.

3.     Justificativa

O presente trabalho surgiu da necessidade de compreender a complexidade dos episódios de roubo com recurso aos serviços de conta móvel oferecidos por empresas de telefonias moves nos decorrentes do cotidiano onde várias pessoas próximas a queixam-se de terem sido roubados (burlados) através de chamadas por telefone ou mensagens por SMS.

Os delinquentes (burladores) contactam telefonicamente as suas possíveis vítimas anunciando uma determinada questão que seja do interesse da vítima e se fazendo passar por alguém que queira ajudar. E com o aparecimento das contas móveis (mpesa, mkesh) os delinquentes usam as mesmas artimanhas para enganar as suas vítimas e tirarem dinheiro sempre que a pessoa tiver um serviço de conta móvel activo.

4.     Objectivos do trabalho

4.1.Geral

v  Compreender as diferentes formas de burla, feito com recurso aos serviços de conta móvel a partir dos depoimentos das vítimas.

4.2.Específicos

  • Identificar vítimas ou pessoas que tenham passado por experiência de roubo com recurso aos serviços de conta móvel;
  • Recolher evidências e depoimentos falados das vítimas;
  • Fazer o enquadramento teórico dos dados obtidos a partir dos depoimentos falados por parte das vítimas.

5.     Hipótese

Para cometerem o crime de burla com recurso a uso de serviços de conta móvel, os delinquentes o fazem por meio de SMS que são enviadas as vítimas com instruções que quando seguidas, culminam numa transferência imediata de dinheiro na sua conta móvel (m-pesa).

6.     Metodologia

Aqui, apresentamos os procedimentos metodológicos e técnicas de recolha de dados usados no trabalho de campo. A pesquisa seguiu o método etnográfico, baseado na abordagem qualitativa combinada com observação participante no terreno e auxiliada por entrevistas abertas em profundidade e conversas não formais. Com a combinação desses procedimentos foi possível obter experiências e compreender percepções e que as pessoas que sofreram roubos com recurso aos serviços de conta móvel têm sobre a segurança que estes serviços oferecem.

Participaram na presente pesquisa 5 pessoas, das quais 4 de sexo feminino e 1 de sexo masculino. As entrevistas decorreram no bairro da Maxaquene “A”, Campus Universitário, e mercado de Xipamanine na cidade de Maputo.

O estudo foi realizado seguindo pessoas que sofreram burla com recurso ao serviço de conta móvel que, de forma indicados conseguimos os localizar. As entrevistas abertas e conversas não formais foram feitas a pessoas de diferentes categorias. 

A pesquisa teve três fases a saber: a fase exploratória que consistiu na revisão da literatura e exploração de dados no contexto de pesquisa; a fase de trabalho de campo e a análise de dados.

7.     Enquadramento teórico e definição dos conceitos

7.1.Enquadramento teórico

Segundo Baratta (1999), Robert Merton se utiliza da noção de anomia para indicar como o desvio é um produto da própria estrutura social, absolutamente normal, na medida em que esta própria estrutura acaba compelindo o indivíduo à conduta desviante, apresentando-lhe metas, mas não lhe disponibilizando os meios necessários para a sua consecução, de maneira a "tirar-lhe o chão", abandonando-o sem possibilidades "normais" de obter seus objectivos. Ausentes os meios legais, mas presente a pressão para a conquista dos objectivos impostos socialmente, esse vácuo (anomia) necessitará ser preenchido de alguma forma. Essa forma é a perseguição dos fins por meios ilegais, desviantes, já que os legítimos não estão disponíveis.

Merton desenvolveu o conceito de "anomia", para descrever o desequilíbrio entre metas culturais e meios institucionalizados, referindo-se das discrepâncias entre os objectivos culturalmente definidos e os meios institucionalizados disponíveis para atingir esses objectivos (Veras, 2006). 

Para Merton, “a desproporção entre os fins culturalmente reconhecidos como válidos e os meios legítimos à disposição do indivíduo para alcançá-los, está na origem dos comportamentos desviantes” (Baratta, 1999: 63). E mais: “a cultura coloca, pois, aos membros dos estratos inferiores, exigências inconciliáveis entre si. Por um lado, aqueles são solicitados a orientar a sua conduta para a perspectiva de um alto bem-estar; por outro, as possibilidades de fazê-lo, com meios institucionais legítimos, lhes são, em ampla medida, negadas”.

Merton, propôs que desvio baseia-se em dois critérios: (1) motivações de uma pessoa ou sua
adesão a metas culturais; (2) a crença de uma pessoa em como alcançar seus objectivos. Há uma tensão entre a estrutura cultural e a estrutura social induzindo o indivíduo a uma opção entre as vias existentes: a conformidade, a inovação, o ritualismo, a fuga do mundo ou o retraimento e a rebelião (Merton apud Baratta, 1999).

No caso em análise, quem comete delito com recurso aos serviços de conta móvel enquadra-se no modo de adaptação por inovação, de acordo com a sua definição:
A inovação decorre da ênfase cultural relativa ao êxito, o que estimula a busca por meios proibidos. O delinquente, nesse caso, procura um atalho para alcançar a ascensão social mais rapidamente, isto é, usando meios socialmente não aprovados ou não convencionais para obter metas culturalmente aprovadas. Exemplo: roubo com recurso a serviço de conta móvel (m-pesa) para alcançar a segurança financeira.

7.2.Definição de conceitos

A criminalidade é um fenómeno complexo, formada por um grupo de pessoas bastante dissemelhante, que esta no seio de uma sociedade. Para Lira Júnior citado por Santos e Jesus (2011), toda sociedade possui seus padrões, regras e limites por ela estabelecidos, e quando um indivíduo ou grupo se desvia destas determinações ele provoca mudanças, é considerado desviante da norma social. 

Num sentido formal, crime é uma violação da lei penal, caracteriza-se como a prática de conduta tipificada pela lei penal como ilícita. 

O conceito de burla está associado ao de fraude, a medida em que é considerado como um delito contra o bens ou contra as propriedades alheia. Abrange basicamente em enganar para obter um bem patrimonial.

Burla[1] consiste em alguém, com intenção de obter para si ou para outrem, enriquecimento ilegítimo, por meio de erro ou engano sobre factos que astuciosamente provocou, determinar outrem à prática de actos que lhe causem, ou causem a outra pessoa, prejuízo patrimonial.

8.     Apresentação e Análise dos Resultados

Nesta secção descrevemos e analisamos os resultados do trabalho de campo. De forma a preservar a identidade e anonimato dos participantes desta pesquisa, omitimos os nomes dos entrevistados, usando nomes fictícios.

Numa análise geral, constatamos que antes de cometerem qualquer burla, os delinquentes editam uma mensagem de confirmação de transferência de um certo valor, na qual se confirma o valor transferido e o saldo existente na conta do receptor da mensagem (o individuo que se pretende burlar). De seguida, envia a mensagem por SMS para as prováveis vítimas, como o exemplo da mensagem que se segue, tirada do telefone de Fazbem[2]:
Confirmado 4EZ55VVDJ3. Recebeste 1000.00MT de 258845150*** - JAIME SITOE aos 15/4/17 as 3:57 PM. O teu novo saldo M-Pesa e de 2000.00MT. M-Pesa e fácil!
Depois de enviarem uma mensagem com mesmas caraterísticas que a mensagem apresentada acima, seguem-se as diferentes formas usadas pelos burladores para efetivarem os seus intentos. Estas diferentes formas podem ser por envio de uma outra mensagem, na qual o delinquente faz-se passar por alguém que por engano, transferiu a o valor para o destinatário desconhecido, conforme ilustra a mensagem abaixo, partilhada pela senhora Júlia[3]:
Boa tarde, enviei 1500MT para sua conta M-pesa falhei número ao digitar, por favor por favor esto pedir devolver o dinheiro. Agradecia imenso!
A outra forma acontece quando, depois do envio da mensagem de confirmação, o delinquente entra em contacto por meio de chamada telefónica com a provável vítima, onde segundo as senhoras Alice[4] e Felismina[5], “os burladores lamentam ter falhado o número e pedem favores para enviar de volta muito rapidamente por estarem muito aflitos e por ser o único valor que tinha para pagar as despesas”.

A terceira forma avançada por Fazbem acontece quando o burlador entra em contacto com a vítima e faz-se passar por um funcionário da operadora móvel que é responsável pela gestão dos serviços de conta móvel na operadora. Aqui, o delinquente informa ao cliente que foi transferido um valor e que o mesmo deve ser rapidamente transferido de volta ao remetente. 

Entretanto, na forma em que o delinquente faz-se passar por alguém que tenha falhado o destinatário transferência do valor, quer seja por meio de chamada, quer seja por meio de mensagem, a consumação da burla acontece em caso de a provável vitima desconhecer da técnica usada ou não ter passado por uma experiencia igual de burla. Caso contrário, a burla não acontece e o delinquente é humilhado, segundo o depoimento da senhora Amina[6]:
Depois de me burlarem os meus 1500,00MT, acho que fiquei durante um mês e duas semanas quando, de repente recebi outra mensagem. Logo depois de receber a mensagem, estava a receber a chamada do burlador que me pedia a mesma coisa (fazer transferência). Eu tive medo, logo comecei a lhe insultar e ele desligou. Mas acho que se fosse primeira vez, podia ser burlada...
Com o depoimento acima, podemos perceber que a burla só acontece em caso de as instruções feitas pelos burladores forem, depois do envio da mensagem, seguidas pela vítima. Também é evidente que os burladores aproveitam-se da falta de informação ou inocência da vítima, ou ainda o facto de a vítima ser muito generosa e transmitir o censo de justiça.

O facto curioso que constatado durante a pesquisa é que o valor que se enuncia nas mensagens enviadas pelos burladores sempre coincidia com o saldo da conta M-pesa das vítimas, o que fazia com que as vítimas pouco duvidassem da idoneidade e proveniência da mensagem. Daí a seguinte dúvida: como os delinquentes conseguiam acertar o valor de saldo que do destinatário? Deixamos a resposta para essa questão as próximas pesquisas.

8.1.Exemplo de uma mensagem de burla



9.     Conclusão

O principal bem que se procura tirar das vítimas é o dinheiro, onde os delinquentes aproveitam-se do desconhecimento das suas vítimas com relação aos crimes decorrentes das burlas com recurso a serviço de conta móvel. 

Os delinquentes simulam a transferência de um certo valor através de SMS e de seguida ensaiam uma mensagem ou chamada se fazendo passar de quem tenha transferido um valor por engano. Mas a burla só acontece quando a vítima corresponde e segue todas as artimanhas instruídas pelo burlador. Em caso de não correspondência e não seguimento das instruções dadas pelo burlador, não existe possibilidade para interação entre as partes e consequentemente a burla não acontece. 

Há que salientar que quando existe correspondência e interação entre as partes (burlador e provável vitima), há sempre duas consequências possíveis: ou a burla acontece, ou a burla não acontece, dependendo da correspondência da pessoa. Essa correspondência pode ser negativa (quando o individuo descobre que se trata de uma burla e desiste, não culminando por ser burlado) ou positiva (quando o individuo não sabe que se trata de uma burla e segue as instruções culminado por ser burlado).

Referências Bibliográficas

Baratta, Alessandro. 1999. Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal. 2a. Ed. Trad. Juarez Cirino dos Santos. Rio de Janeiro: Freitas Bastos.
Santos, Grasiele e Jesus, Rusche. 2011. Representação do Conceito de Criminalidade para Estudantes de Psicologia, Direito e Pedagogia. UPM. Disponível em: <http://www.mackenzie.br/fileadmin/Pesquisa/pibic/publicacoes/2011/pdf/psi/grasiele_aparecida.pdf>. Acesso em 17 de Maio de 2017.
Sa Garay, Humberto. 2015. Interceptação Telefônica, Serendipidade e Criminalidade. Disponível em: <https://pt.linkedin.com/pulse/intercepta%C3%A7%C3%A3o-telef%C3%B4nica-serendipidade-e-humberto-de-s%C3%A1-garay> Acesso em: 21 de Maio 2017.
Veras, Ryanna. 2006. Os Crimes do Colarinho Branco na Perspectiva da Sociologia Criminal. Dissertação de Mestrado em Direito. PUC/ São Paulo.


[1]Extraído em: Jurislingue. Disponível em: <http://jurislingue.gddc.pt/fora/resultado_pesquisa_termos.asp?Termo_Portugues=Burla> Acesso em: 22 de Maio 2017.
[2] De 21 anos de idade, estudante na UEM e residente no Complexo Residencial do Campus Universitari Principal da UEM, entrevistado na sua residência.
[3] De 38 anos de idade, mãe de uma filha, doméstica e residente no Bairro da Maxaquene “A”, entrevistada em sua casa.
[4] De 25 anos de idade, comerciante e residente no Bairro de Xipamanine, entrevistada na sua barraca de venda de produtos alimentares no mercado de Xipamanine.
[5] De 23 anos de idade, estudante na UEM e entrevistada no Campus Universitário Principal da UEM.
[6] De 30 anos de idade, mãe de dois filhos e estudante universitária, entrevistada na sua residência, no bairro da Maxaquene “A”.

Sistemas de trocas das concepções teóricas a prática do “Xitique” em Moçambique


Trabalho elaborado pelo estudantes do curso de licenciatura em Antropologia da Universidade Eduardo Mondlane (Moçambique) na disciplina de Antropologia do Economico.

Introdução

Este trabalho refere-se a produção dum ensaio, com tema a escolha dos elementos do grupo. O tema escolhido deve estar dentro da temática sobre produção, consumo e troca que abordamos ao longo da disciplina da Antropologia do Economico. O nosso grupo escolheu abordar sobre Xitique. Consideramos que o xitique é um sistema de troca.

Este trabalho tem como objectivo principal descrever até que ponto o xitique é um sistema de troca, analisando os diversos modos como que o xitique é realizado.

No que trata-se da estrutura, o nosso trabalho está estruturado da seguinte forma:
  • Primeiro iremos contextualizar o surgimento do xitique, em que circunstancias a ideia da prática do xitique surgiu;
  • Segundo, iremos apresentar as diferentes definições do que é xitique;
  • Terceiro, apresentamos, as principais características desse mesmo processo de troca e rotação que é o Xitique;
  • Em quarto, em jeito de conclusão apresentamos a nossa reflexão critica sobre os argumentos dos autores sobre xitique.


1. Surgimento de Xitique

Neste subcapítulo, apresentamos como abordagem central a contextualização do surgimento do xitique, em que demonstramos que questões históricas, sociais, culturais, económicas, estiveram por detrás do surgimento da prática de xitique.

De acordo com Isabel Casimiro (2011) o xitique pode ser enquadrado num contexto de actividades geradoras de rendimentos, que considera ter surgido como resposta aos programas de reajustamento estrutural, pressão económica, a perda de empregos, crise económica, problemas financeiros que abalaram as famílias Moçambicanas. 

A autora considera que a aderência a essas estratégias como respostas a falta de rendimento, surgem a partir dos anos 80, 90 do século XX, onde tem-se verificado uma crescente deterioração das condições socioeconómicas de vida, a procurar alternativas para a geração de rendimentos que permitam cobrir as suas necessidades básicas, através de actividades micro-empresariais de variada natureza e características. (Casimiro, 2011: 2)

Como forma de sobrevivência, começam a surgir várias actividades geradoras de rendimento para o sustento e reprodução, trata-se aqui de estratégias de sobrevivência. Dentre essas diversas estratégia de rendimento, a autora destaque que na zona sul de Moçambique predominam o xitique, tsima, muthekela, mukhosi wa mina, e o aspecto em comum entre essas práticas deve-se ao facto de tratarem-se de práticas sociais de ajuda mútua.

Por sua vez, Teresa Cunha no seu artigo sobre a arte de xiticar (2011), considera que a questão da pobreza em Moçambique, foi um dos grandes factores que influenciaram no surgimento de esse tipo de práticas associativas como é o caso do xitique, embora Isabel Casimiro (2011) defenda que as práticas sociais de ajuda mútua ocorrem desde o início das sociedades humanas.

Para Teresa Cunha (2011) Moçambique é um país empobrecido, na medida em que verifica-se ausência de acesso aos bens, recursos de moeda, que porem nao impedem a existência de práticas que baseiam-se numa distribuição e produção de uma ordem a um equilíbrio e a uma harmonia social e económica.

Assim como Casimiro, Teresa Cunha defende que a ideia da prática do xitique trata-se de algo muito antigo, que devido a essas condições de pobreza que anteriormente descrevemos, está a ser novamente reinventado. E actualmente são várias as mulheres que têm aderido a prática do xitique como uma forma de subsistência.

Para Teresa Cruz e Silva no seu artigo sobre sector informal (2002) as mudanças económicas que assistiram-se em Moçambique apos a independência, as reformas económicas, introdução do sistema socialista, trouxeram consigo uma serie de transformações sociocultural das quias a autora destaca a introdução do sector informal. E foi com o crescimento do sector informal, entre as mulheres que realizavam negócios nesse sector, que surgiu a prática de xitique, como uma forma de associação, rede de solidariedade, poupança, crédito rotativo entre estas mesmas mulheres.

De uma forma geral, o surgimento do xitique de acordo com as autoras citadas, pode ser enquadrado no contexto das reformas económicas, a situação politica, social e cultural que Moçambique viveu no período pós-independência, concretamente nos anos 80 e 90 do seculo XX, essas questões não estão desassociados, tudo em conjunto resultaram num novo estilo de organização económica e social.

Catarina Trindade (s/d), citando Ana Loforte, afirma que a economia informal é o lugar onde se têm estruturado as novas actividades produtivas, onde se geram novas relações sociais com uma maior participação nas decisões a nível doméstico, de solidariedade e de novas legitimidades

As crises económicas que afectaram por vários anos a sociedade moçambicana, criando desempregos, baixa renda, levaram com que as mulheres procurassem meios de subsistência no espaço público. Foi em parte essa aderência das mulheres ao espaço público que levou ao surgimento do mercado ou sector in formal, e como já referi foi dentro desse grupo de mulheres pertencentes ao sector de informal que se institui a prática de xitique como resposta as dificuldades económicas, como forma de ajuda mútua.

2. Definição de Xitique

No que diz respeito a esta secção iremos abordar sobre como e que diferentes autoras definem xitique, e quais as principais características atribuídas a prática de xitique. Iremos apresentar os argumentos de Teresa Cruz e Silva, Catarina Trindade, Teresa Cunha e outros.

Catarina Trindade citando Teresa Cunha (s/d), defende que o xitique tem como objectivos a aquisição de bens, produtos e serviços que doutra maneira não seriam acessíveis a determinado grupo de pessoas mediante a escassez com que vivem, porem Trindade defende que deve-se evitar considerar que o propósito central do xitique é uma prática que diz respeito a um meio de sobrevivência das pessoas empobrecidas, embora o xitique tem sido a solução de muitos dos problemas pessoais ou seja trata-se de um sistema de interajuda. 

Por sua vez Isabel Casimiro (2011), afirma que o xitique é uma designação em changane que se refere a uma prática de poupança que baseia-se em grupos de ajuda mutua (principalmente as mulheres e organizam-se num sistema de associações de crédito rotativo e poupança.

Em outro seu artigo, Catarina Trindade (2010) também defende a mesma perspectiva da Isabel Casimiro, que olha para o xitique como um modelo de poupança e credito rotativo, que permite as pessoas fazerem poupanças entre si. Considera que a prática de xitique existem em todo território moçambicano, mas tem as suas variações de acordo com o contexto, no entanto a prática de xitique que é o principal assunto neste trabalho é mais comum na zona sul, principalmente em Maputo. 

Catarina Trindade defende nos dois artigos da sua autoria que aqui apresentamos que o xitique apesar de ser mais comum entre pessoas de classes sociais mais baixas, com fraco acesso a recursos e créditos bancários, é uma prática que atravessa todos os estratos sociais, assim como todas as religiões e etnias.

Por sua vez, Isabel Casimiro e Amelia de Souto (2010), na obra Empoderamento económico da mulher consideram que em termos etimológicos xitique e uma palavra tsonga que significa poupança. E citando Teresa Cruz e Silva, consideram que o xitique é uma das formas mais comuns para a realização de poupanças nos mercados informais, como já havíamos referenciado, que o xitique surgiu num contexto de mercado informal.

Catarina Trindade define o xitique como sendo mais do que um sistema de créditos e poupanças rotativa, uma vez que o xitique para além de potencializar estrategias dentro do jogo de relações de poder em que as mulheres se encontram, permite o empoderamento das mulheres, que são as que mais praticam xitique.

Isabel Cunha (2011) e Catarina Trindade (2011) defendem que o xitique é uma prática que vai além de uma estratégia de sobrevivência das pessoas empobrecidas, tem objectivos extra-económicos e contribui para a coesão social, controlo dos recursos existentes, identidade e afirmação.

No que diz respeito a definição, Teresa Cunha (2011), afirma que o xitique e uma palavra oriunda da língua tsonga que em português significa poupar ou amealhar. Trata-se de uma racionalidade económica de poupança, que visa o bem comum dos membros da associação de crédito rotativo em análise. Ainda de acordo com Teresa Cunha o xitique demonstra-nos a existência de sociabilidade entre os participantes, o que leva-nos a uma reflexão para além das questões económicas para sobrevivência, demonstrando que fazer xitique é mais do que mealhar e receber dinheiro. 

Por sua vez Isabel Casimiro, diz que o xitique faz parte das associações que emergiram socialmente, como resposta a pobreza e a vulnerabilidade, que por outro lado a existência desse tipo de associações, permite a integração social, partilha, solidariedade. Pois no xitique não só presenciamos a as trocas dos bens matérias, as trocas económicas, há também de valores.

Um aspecto em comum nos argumentos das autoras é que todas consideram que os grupos de xitique baseiam-se na confiança mútua, que a confiança é um elemento essencial para a criação e continuidade dos grupos de xitique.

3. Características do Xitique

Nesta secção, apresentamos as principais características do xitique, destacando, como opera esse processo de troca, quem está envolvido, e como o sistema de rotação é feito. O xitique trata-se de um sistema de troca que pode envolver amigos, familiares, colegas, pessoas aparentemente desconhecidas que associação para criar um grupo de poupança e credito rotativo, tal como demonstram os autores aqui citados, visto que essa e uma ideia comum entre estes mesmos autores.

De acordo com Trindade (s/d), a autora traz nos seus trabalhos exemplos de como decorre a prática do xitique, apresentando quais as principais características, como funciona este sistema de troca. Para melhor defendermos o nosso argumento de que o xitique constitui um sistema de troca, que é importante ser analisado na disciplina de Antropologia de Economico, apresentaremos trechos ou exemplos que as autoras usaram para demonstrarem como é que ocorre a prática do xitique.

Segundo Trindade (s/d) a característica particular do xitique é que e maioritariamente feito entre mulheres. O que não quer dizer que não exista uma participação masculina. O xitique funciona a partir da criação de um grupo de pessoas, variando o número de acordo com os contextos. Esse grupo de pessoas se junta para começar a fazer poupança, podendo fazer um xitique diário, semanal, quinzenal ou mensal, conforme a necessidade e capacidade de cada um/a. O mais comum é o xitique mensal. 

Decidem então que cada um/a contribuirá mensalmente com o montante que é estipulado tendo em conta a capacidade de cada um/a, e posto isso decidem também qual será a data limite mensal para cada um/a tirar a sua parte, que a cada fim desse período alguém ira receber o xitique.

O passo a seguir é decidir qual será a ordem em que ira receber o dinheiro. A escolha pode ser aleatória ou pode ser feita de acordo com a necessidade de cada componente do grupo. Quando o xitique chegar ao fim e todos/as receberem a sua parte, voltam ao início e recomeçam. 

A autora Trindade, considera que outro aspecto a ter em conta no xitique são o que podemos chamar de rituais, que é a existência de encontros, onde alguns grupos de xitique, principalmente os familiares, organizam encontros mensais, com direito a almoço/lanche, música, danças e cânticos, sempre na casa de quem irá receber o dinheiro. Podem também oferecer-se presentes, como louça e capulanas (pedaço de pano tradicional, colorido, que se usa para vários fins).

Em termos de importância, Trindade considera que o xitique é importante porque permite uma maior coesão do grupo, a criação de redes de ajuda mútua e solidariedade, assim como o estreitamento das amizades e laços familiares.

Enquanto para Isabel Casimiro e Amelia Neves de Souto (2010), o xitique inicia a partir de um grupo de amigos que se juntam, fixam o montante da contribuição de cada membro e a periodicidade dos encontros para prestação de contas e distribuição rotativa da poupança, por cada um deles. 

Teresa Cruz e Silva (2002), afirma que a forma de pagamento do xitique não tem que ser necessariamente monetária, havendo casos em que essa contribuição se traduz em bens materiais. Os fundos circulam entre os seus membros e a sua coleta e distribuição funcionam, regra geral, na base da confiança e empatia, ao mesmo tempo que obriga cada membro do grupo a fazer a poupança de um montante predeterminado e dentro da periodicidade previamente definida para o pagamento da sua quota. A distribuição da poupança entre os membros do grupo é feita periódica e rotativamente.

Em relação as características, para Trindade o xitique opera entre um grupo de pessoas, constituído por amigas/os, colegas de trabalho ou familiares, que estipulam um montante de contribuição assim como a periodicidade dos encontros para prestação de contas, distribuição rotativa do poupado por cada uma das pessoas envolvidas no grupo e confraternização. 

Referência Bibliográficas

CUNHA, Teresa. 2011. A arte de xiticar num mundo de circunstâncias não ideia. Edições Afrontamneto. Porto

CASIMIRO, Isabel Maria. 2011. Mulheres em actividades geradoras de rendimentos experiencias de Moçambique.

CASIMIRO, Isabel Maria e Amelia Neves De Souto. 2010. Emponderamneto económico da mulher, movimento associativo e acesso a fundos de desenvolvimento local.

CRUZ SILVA, Teresa. 2002. Determinantes globais e locais na emergência de solidariedade sociais: o caso do sector informal nas áreas periurbanas da cidade de Maputo. Revista critica das ciências sociais, centro de estudos sociais da universidade de coimbra. 75-89.

TRINDADE, Catarina Casimiro. (s/d). o dinheiro em poder delas: a prática do xitique na cidade de maputo. São paulo.

TRINDADE, Catarina Casimiro. (s/d). Xitique: um modelo moçambicano de poupança e credito rotativo.

Entre a Tuberculose ou Tchokolo


Autor: Edmar Reane

Dra Carla Braga, (Supervisora)

Resumo 

O objectivo deste trabalho de pesquisa é compreender a busca de tratamento por parte dos doentes com tuberculose e tchokolo, bem como descrever os significados atribuídos aos tratamentos prescritos para essa condição. A pesquisa foi realizada na Cidade de Dondo, mais concretamente no Bairro de Mafarinha, tomando como foco da pesquisa as pessoas com tuberculose e tchokolo. Usou-se como fio condutor da pesquisa, o conceito de modelos explicativos desenvolvido por Kleinman, defende, que o modo como as pessoas concebem a doença e itinerários terapêuticos estão relacionados com os conhecimentos e valores culturais do contexto onde as pessoas estão inseridas. Constatou-se que os indivíduos residentes têm várias concepções, em torno da etiologia da tuberculose/tchokolo, acreditando que é uma doença causada por constrangimento de normas pré-estabelecidas na comunidade, desde a prática do aborto, até a purificação das viúvas. O estudo conclui que o processo de busca de tratamento das pessoas com tuberculose/ tchokolo no Bairro de Mafarinha é influenciado pela forma como os residentes concebem a tuberculose, uma vez que, neste Bairro a tuberculose é associado a “tchokolo” uma doença com as características e sintomas similares à tuberculose, o que leva os residentes deste Bairro à cruzarem várias alternativas terapêuticas. Contudo este processo é influenciado em grande medida pelas formas tradicionalmente aceites para tratar as doenças. Os doentes optam pela biomedicina e quando não cura a família tem quebrado as regras levando o doente até a medicina tradicional. No entanto, há um grupo que acredita que a doença é tradicional e só tradicionalmente.

Palavras Chave: Doença, Itinerarios Terapeuticos, Saude, Modelos Explicativos

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segunda-feira, 31 de julho de 2017

Moçambique, uma cultura rica e uma história de vida sofrida



Belezas naturais, um povo amigável, uma cultura rica, e uma história de vida sofrida. Assim é Moçambique. O Brasil vem dando atenção especial ao continente africano. Hoje (9/11), trinta e seis países da Africa têm projetos brasileiros de capacitação técnica. O repórter Adilson Mastellari, enviado especial que acompanha a visita do presidente a Maputo, capital moçambicana, conta uma parte dessa história.

Cultura Moçambicana


Moçambique é um país com uma herança cultural diversificada e rica. As culturas e as tradições do Islão, Suaíli, Bantu coexistem harmoniosamente no país. Grupos étnicos constitui uma grande percentagem da população, e incluem Shangana, Chokwe, Ma'ndaus, Ma'senas e cultura Makua entre outros. 

Outros grupos incluem os descendentes de europeus, euro-africanos. Mesmo que o país possui uma variedade muito grande de línguas, relações sociais e tradições artísticas, os moçambicanos partilham uma cultura comum com muito amor que é expresso de várias maneiras, tais como música, poesia, dança dinâmica e interesse comum performance. Outro interesse comum é o seu amor ou futebol, este desporto está como a actividade desportiva favorita da nação Moçambicana. A selecção de futebol de Moçambique chama-se "Mambas" que é nome de uma espécie de cobra. Eles competem  regularmente com outras nações africanas em seus campeonatos de futebol.

O português é a língua mais falada em Moçambique e é usado para negócios, educação e negócios do estado. Muitas línguas indígenas ou dialetos  também são faladas. Moçambicanos com uma educação melhor também falam Inglês fluentemente. Em Maputo e muitos outros destinos turísticos em Moçambique, o Inglês é amplamente falado. Nas áreas do norte do país que você vai encontrar linguagens como o Swahili por influência da Tanzânia que faz fronteira com a região norte de Moçambique.

Principais Grupos Étnicos de Moçambique


Moçambique possui uma rica e longa tradição cultural de coexistência de diferentes raças, grupos étnicos e religiões, ora isto reflecte a diversidade de valores culturais que em conjunto criam as identidades do Moçambique moderno. Apesar de possuir uma diversidade cultural e religiosa diferente de outros lugares raramente serve de razão para gerar conflitos entre os povos de Moçambique.
Com o objectivo de criar uma identidade nacional, o Português foi adoptado como língua oficial depois da independência. No entanto, existem em Moçambique cerca de 20 grupos linguísticos e eles são contrários ao Português largamente falado, especialmente nas zonas urbanas e hoje, cerca de 25% da população fala Português.

A constituição da República de Moçambique estabeleceu o princípio segundo o qual o estado promove o desenvolvimento da cultura e personalidade nacional e garantiu a livre expressão das tradições e valores da sociedade moçambicana.
Efectivamente, a cultura deve ser entendida como um componente determinante da personalidade dos moçambicanos e considera-se a sua valorização como um elemento fundamental para a consolidação da unidade Nacional, da identidade individual e do grupo.
Os povos que habitam actualmente Moçambique são incluídos no grande grupo dos Bantu, que povoa quase toda a África a Sul do Sahara. Dentro deste grupo há muitas sub-divisões, ou etnias. Vejamos algumas noções elementares das principais etnias de Moçambique, divididas, segundo muitos autores, em mais de oitenta sub-grupos.

1. Conceito de etnia

Historicamente, a palavra etnia significa “gentio”, proveniente do adjectivo grego ethnikos. O adjectivo se deriva do substantivo ethnos, que significa gente ou nação estrangeira. É um conceito polivalente, que constrói a identidade de um indivíduo resumida em: parentesco, religião, língua, território compartilhado e nacionalidade, além da aparência física
Um grupo étnico é um grupo de indivíduos que têm uma certa uniformidade cultural, que partilham as mesmas tradições, conhecimentos, técnicas, habilidades, língua e comportamento.
A sociologia Africana, considera que uma etnia  ou um grupo étnico é grupo de pessoas que têm uma herança sociocultural comum, como uma língua e tradições comuns.

Encontramos uma diferença enorme entre Etnia, Tribo, Clã e Linhagem. A sua diferença com a Tribo, surge no facto de que a Tribo referir-se a um conjunto humano que reúne várias famílias sob a autoridade de um mesmo chefe e num espaço territorial dado. A Etnia difere do Clã, visto que este último refere-se a um grupo de pessoas que têm um ancestral comum. Finalmente difere de linhagem, uma vez que esta é uma descendência.

Noutras palavras, os povos ou as populações de ascendência comum constituem etnias; as etnias subdividem-se em tribos, as tribos em clãs e os estes em linhagens. Em todos os países, cada pessoa tem origens étnica, tribal, clânica e de linhagem
Antes da Conferencia de Berlim (Alemanha) de 1885, África era subdivida em Nações verdadeiras cada uma das quais habitadas por pessoas de ascendência comum. Os países africanos resultantes da Conferência de Berlim são compostos de várias etnias, quer dizer de várias nações, culturas e tradições.

2 Principiais grupos étnicos de Moçambique

Em Moçambique, existem diversos agrupamentos humanos com características socioculturais específicas. Ainda não há unanimidade no que se refere a uma designação genérica desses grupos. Por razões óbvias, durante o período colonial esses grupos eram designados por tribos, etnias ou grupos étnicos. O termo povo, embora fosse utilizado por alguns antropólogos e historiadores, não teve um uso sistemático referido a essas entidades.
De acordo com essa informação (MINED, 1986:36), os povos de Moçambique agrupar-se-iam de acordo com uma característica cultural que se apresenta mais ou menos comum em algumas regiões do País: os regimes de parentesco. O rio Zambeze constitui-se numa fronteira natural desses regimes em Moçambique.

A norte daquele rio localizam-se os povos matrilineares: Makonde, Yao, Makhuwa, Nyanja e outros localizados no Zambeze superior, como os Nsenga e os Pimbwe, por exemplo. A sul, encontram-se os povos patrilineares congregados nos seguintes grupos: Shona, Tsonga, Chope e Bitonga. Entre os povos patrilineares figura também o grupo Nguni, cujos núcleos se encontram espalhados pelo País.
No Vale do Zambeze, uma zona de transição, situam-se povos de simbiose das influências matrilinear e patrilinear, dos quais se destacam: Chuwabo, Sena e Nyungwe. Para além dos grupos identificados, existem outros localizados na costa norte, cuja característica particular é a influência patriarcal islâmica que apresentam: são os Mwani.

2.1  Os makondes

Os Makonde localizam-se no extremo norte, junto ao rio Rovuma. Encontram-se igualmente no sul da Tanzânia, em número maior que em Moçambique. Apresentam como traços culturais particulares a escultura em madeira, o uso de máscaras nas cerimónias relacionadas com os ritos de iniciação e a execução da dança tradicional conhecida por “mapico”. Foi em Mueda, centro dos Makonde, que em 16 de Junho de 1960 as autoridades portuguesas reprimiram uma manifestação política da população local assassinando várias centenas de pessoas, fenómeno que passou a ser conhecido na história por Massacre de Mueda. Foi na região dos Makonde, no posto administrativo de Chai, que em 25 de Setembro de 1964 é desencadeada a Luta Armada de Libertação Nacional, 47 anos depois que essa mesma região se constituiu no último foco da submissão à ocupação militar portuguesa.

2.2 Os Yaos

Os Yao, também conhecidos por Ajaua, ocupam a região junto ao lago Niassa e o norte da província com o mesmo nome. Os Yao também se encontram no Malawi e no sul da Tanzânia. Fontes históricas revelam que os Yao eram bastante activos o comércio à longa distância, ligando as regiões do interior com a costa do Índico: Quílua, na Tanzânia, e Ilha de Moçambique. Antes dos finais do século XVIII eram os principais fornecedores de marfim. Segundo Rita-Ferreira (1982:124) os Ajaua transitaram para as formas de comércio internacional com Quílua e Ilha de Moçambique de uma forma gradual, a partir de trocas regionais restritas e regionais de peles, produtos agrícolas e utensílios de ferro até atingir o nível de uma florescente e bem organizada exportação de marfim, nos finais do século XVIII. Rita-Ferreira diz ainda que no primeiro quartel do século XIX os Ajaua tinham-se transformado nos maiores fornecedores de escravos exportados para Mossuril (ibid.:285). Dado o seu contacto regular com a costa de influência muçulmana, os Ajaua islamizaram-se mais cedo que os outros povos do interior. Entretanto, uma islamização significativa viria a acontecer depois de 1890, em  resposta à pressões trazidas pela ocupação colonial (Cf. Ibid.:289).

2.3 Makuwa

Os Makhuwa, por vezes considerados como duas entidades diferentes, constituem a etnia de Moçambique dispersa por um vasto território que no passado se estendia, do rio Zambeze ao rio Messalo, a Sul e Norte, respectivamente, do Oceano Índico, a Este, até à actual fronteira com o Malawi, a Oeste;
Na actualidade, com o centro em Nampula, os Makhuwa-Lomwe espalham-se para partes das províncias de Cabo Delgado, Niassa e Zambézia. Importantes agrupamentos Makhuwa encontram-se também no Madagáscar, no sul da Tanzânia e no Malawi, também a sul. Os Makhuwa reclamam, segundo a tradição, uma origem mítica comum, como comuns são também a sua organização sócio-familiar e a língua que falam. Alguns estudos advogam ser este o grupo bantu mais antigo desta parte da África Austral.
Entre os makuwas, as linhagens familiares estão extensivamente representadas em todo o território [étnico], levando-nos à conclusão do íntimo parentesco existente entre as gentes que constituem aquilo a que tem sido uso apodar de “tribos” Macuas. Igualmente, se encontram as mesmas linhagens familiares (mahimo) em todas as “tribos” Macuas e Lomues, cada qual reportando-se ao mesmo fundador antepassado. O que nos permite reconhecer que todas as chamadas “tribos” Macuas e Lomues são afinal um mesmo povo, embora por vezes assumindo variações regionais (1970:106).

2.4 Maraves

A norte do rio Zambeze, na província de Tete e na parte ocidental da província do Niassa, encontram-se os Marave. Os de Moçambique tomam a designação de Nyanja, enquanto os de Malawi são chamados Chewa.  Para além do Malawi, importantes sectores do povo Nyanja se localizam na Tanzânia, Zâmbia e Zimbabwe. Os Marave são associados ao império do mesmo nome que se desenvolveu nas regiões onde hoje é Zambézia e Nampula, por volta dos séculos XVI e XVIII e que, tal como os Ajaua, se envolveu no comércio de marfim e de escravos. Possuem uma organização matrilinear e tradições culturais particulares.
Junto ao rio Zambeze concentram-se inúmeras etnias com características específicas e exteriores aos grupos étnicos referidos, como são os casos dos Chuwabo, Sena e Nhnungwe, designados habitualmente como “Povos do Baixo Zambeze”.

2.5 Shonas

Os Shona ocupam os territórios entre os rios Save e Zambeze, subdividindo-se em três grupos distintos: Ndau, Manyka e Tewe. De uma forma geral, surgem espalhados pelas províncias de Manica, Tete e Sofala e, ainda, por algumas províncias do Zimbabwe. Esta etnia está associada às ruínas do grande Zimbabwe, entre outros amuralhados de pedra da região.
Shonas ou Xonas são um grupo de povos de línguas bantu que habitam o Zimbábue, a norte do rio Lundi, e no sul de Moçambique. Foram notáveis por suas peças de ferro, cerâmica e música, dentre os quais podem ser destacados os zezuru, karanga, manyika, tonga-korekore e ndau. Com numeração cerca de nove milhões de pessoas, que falam uma série de dialetos relacionados cuja forma normalizada é também conhecida como Shona (Bantu). Um pequeno grupo de imigrantes falando Shona dos anos 1800 também vivem na Zâmbia, no vale do rio Zambeze, na área de Chieftainess Chiawa. O Shona era tradicionalmente agrícola cultivando feijão, amendoim, milho, abóboras, e batata doce.

Os ndaus são um grupo étnico que habita o vale do rio Zambezi, do centro de Moçambique até o seu litoral, e o leste do Zimbábue, ao sul de Mutare. Os ancestrais dos ndaus eram guerreiros da Suazilândia que se misturaram com a população local, constituída etnicamente por manikas, barwes, tewes, nas províncias moçambicanas de Manica e Sofala. A população local do Zimbábue, antes da chegada dos Gaza Nguni, descenderia primordialmente de Mbire, próxima à actual Hwedza. Os ndaus falam um idioma que pertence à família linguística xona, o ndau.

2.6 Bitonga e Chope

Os Bitonga e os Chope concentram-se no sul do país, junto à costa, e nos arredores da cidade de Inhambane, os primeiros, e numa faixa que vai para mais a sul, os segundos que também povoam parte de Gaza, mantiveram ao longo dos séculos uma proximidade cultural com os Tsonga.
Os chopes são dos distritos de Zavala e Inharrime, na província de Inhambane. Este povo viveu tradicionalmente da agricultura de subsistência. Historicamente, alguns chopes foram escravizados e outros tornaram-se trabalhadores migrantes na África do Sul. Os chopes são conhecidos internacionalmente pelo instrumento musical mbila e dança associada, uma manifestação cultural conhecida desde o tempo de Gungunhana, que foi considerada pela Unesco, como Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade. Os chopes identificam-se culturalmente, como povo, com o elefante.

2.7 Os Tsongas

Os Tsongas subdividem-se em três grupos particulares: os Ronga (do extremo Sul até ao rio Limpopo), os Changane (junto ao rio Limpopo) e os Tswa (a norte do rio Limpopo e até ao rio Save). Possuem uma organização patrilinear. Os Tsonga constituem o grupo que, durante os três últimos quartéis do século XIX estiveram sob influência directa do império nguni de Gaza.
Landins ou Vátuas, era o nome genérico dado aos indígenas de Moçambique, a sul do rio Save. Tinham tradições guerreiras sendo o seu último grande imperador, Gungunhana o Leão de Gaza, sido destronado pelos portugueses depois de grandes combates entre 1894 e 1895.
O grupo Tsonga tem continuidades nos territórios da África do Sul e da Suazilândia.

BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA

FERREIRA, Antonio Rita.  Agrupamento e Caracterização Étnica dos Indígenas de Moçambique. Disponível em: http://www.malhanga.com/flipbook/estudos.documentos/

IVALA. Adelino Zacarias. O ensino de História e as relações entre os poderes autóctone e moderno em Moçambique, 1975-2000. Doutorado em Educação/Currículo. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo. 2002

Cultura do Povo Ndau


Ndaus

Os ndaus são um grupo étnico que habita o vale do rio Zambezi, do centro de Moçambique até o seu litoral, e o leste do Zimbábue, ao sul de Mutare.

Os ancestrais dos ndaus eram guerreiros da Suazilândia que se misturaram com a população local, constituída etnicamente por manikas, barwes, tewes, nas províncias moçambicanas de Manica e Sofala. A população local do Zimbábue, antes da chegada dos Gaza Nguni, descenderia primordialmente de Mbire, próxima à atual Hwedza.

Língua

O ndau (ou xiNdau) é o idioma falado pelos ndaus, grupo étnico que habita partes de Moçambique e Zimbábue.

É parte da família lingüística xona, falado nos distritos do sul da província de Sofala, Machanga, Chibabava, Búzi, bem como em Nhamatanda, Dondo e Beira (Bangwe), assim como em Machaze e Mossurize, na província de Manica (Danda). Também é falado em Nova Mambone, no norte da província de Inhambane).

Os ndaus também falam o português, em Moçambique, e o inglês, no Zimbábue. Neste país é falado principalmente nos distritos de Chipinge e Chimanimani.


Arte Ndau

Segundo o Ethnologue, estimou-se que havia cerca de 1 900 000 falantes do ndau em Moçambique e 800 000 no Zimbábue.

Política

A Renamo, segundo principal partido político de Moçambique, consegue boa parte de seu apoio político dos ndaus da província de Sofala (onde seu líder, Dhlakama, nasceu, assim como o arcebispo católico de Beira), em parte devido às suas condições sócio-econômicas extremamente precárias, e por sua falta de inclusão dos programas de investimentos financeiros estrangeiros e de desenvolvimento econômico promovidos pelo partido governante.

O primeiro presidente da ZANU no Zimbábue antes da independência foi Ndabaningi Sithole, que nasceu na região próxima ao monte Selinda. Depois de Robert Mugabe assumir o poder, Sithole formou seu próprio partido, ZANU-Ndonga, que ganhou cada vez mais apoio da comunidade ndau. Devido à relação tumultuosa entre Mugabe e Sithole, a população ndau do Zimbábue nunca apoiou totalmente o governo daquele.

Etnia Sena, Nyungwe e Chuabo de Moçambique

Conceitos Básicos



A antropologia é comumente definida como o estudo do homem e de seus trabalhos. Assim definida, deverá incluir algumas das ciências naturais e todas as ciências sociais; mas, por uma espécie de acordo silencioso, os antropólogos tornaram como campos principais o estudo das origens do homem, a classificação de suas variedades e a investigação da vida dos chamados povos primitivos (LINTON apud MELLO, 1986 p. 18.).
     
Cultura é este conjunto complexo que inclui conhecimento, crença[1], arte, lei costumes e várias outras aptidões e hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade. (LEVI-STRAUSS, apud MELLO 1986, p. 397).
     
O termo Anthropos deriva do grego e significa “estudo do homem” ou “ciência do homem”. Fica confuso ao se perceber mais um significado de estudo do homem, esta tradução se encontra em outros termos como: genética, sociologia, zoologia, psicologia e muitos outros, mas o que realmente diferencia o estudo em foco é exatamente o objeto material, que envolve diversos casos. O Conceito Antropológico de Cultura Segundo Luiz Gonzaga de Mello

Capítulo: I XiSena
     
A Língua XiSena vulgarmente conhecida por Sena é uma das línguas bantus mais falada em Moçambique (antiga colonia portuguesa em Africa, pais localizado na parte Austral de Africa e faz fronteira com o Africa do Sul, Zimbabwe, Malawi, Tanzânia e Zâmbia). Das 11 províncias moçambicanas o XiSena é falado em 4 províncias nomeadamente Sofala, Zambeze, Manica e Tete. A língua sena é falada no Centro do país contemplando cerca de milhões de pessoas. Moçambique tem actualmente cerca de 22 milhões de habitantes.

Os Senas

Ocupam os senas toda área compreendida pelas terras marginais do rio Zambeze, desde Tambara (Manica), circunscrição de Chemba (Sofala), ate ao delta do grande rio, concelho do Chinde (Tete e Zambézia), com excepção[2] de uma pequena faixa correspondente a área do Posto Administrativo de Ancuaze, que é habitada por indígenas que se dizem pertencer ao grupo dos Maganjas e que tem características muito distintas na indone e nos hábitos.
Os senas descendem de um grupo de indinas conhecidos por ba-sengas oriundo dos mucaranjas, que desceram do norte para o vale do Zambeze, onde se fixaram. MARQUES (1960:13).
De uma maneira geral não são bons agricultores, mais são bons na pesca e na caça o que fazem com prazer e entusiamos, também nos artífices, com verdadeiro talento madeira-torneiros e os metais preciosos-ouriveis. E pacifico sendo pouco dando a crime de morte violenta. Intuição do comercio pelo desloca através do canais interior dos rios (MARQUES 1960:14)

A Tradição do Povo Sena

1. O Nascimento: Mabzuade


Segundo MEQUE (1999,p,22) “disse que tradicionalmente, quando uma criança nasce a mulher (akhapita madzuade). Antes de fazer esta cerimónia, ela era considerada mukho (tabu). A cerimónia consistia na lavagem de corpo dela num recipiente de barro. Depois de lavar-se, a pote com água suja era deitada num lugar especificado tornando-se mukho também”.
     
Segundo MARQUES (1960,p,15), “a água suja é metida numa panela que assegura enterram perto duma árvore a qual ficava denominada madzuade”.
Portanto, podemos considerar que existe uma divergência na denominação do local em que se enterra a sujidade proveniente da mulher.
Nesta cerimónia a mulher não podia receber outras visitas que não sejam as da mulher que já tenha concebido, o mesmo sucedendo o pai da criança. As mulheres senas para facilitar crescimento do pénis das crianças costumam fazer lhes massagens apos banho com um suco leitoso duma planta a quem dão nome de “delela” (MERQUES, 1960,pp,16)
Se esta cerimónia não era praticada, a criança podia ter anemia, ou, ate podia estar enxada. O marido também era obrigado de cumprir certas regras cuidadosamente. Durante este tempo depois do cumprimento da cerimónia, o povo acredita que a mulher já está limpa. MEQUE (1999,p,23).

2. Thati: 40 dias Depois de Nascimento
     
Esta cerimónia se faz quando um bebé é tirado de casa pela primeira vez mais ou menos depois de nascimento, chamado thati. Suas mulheres dançam para ensinar anova Mãe para ensinar como cuidar do bebé.

3. Ritos de Iniciação de Raparigas e Rapazes
     
Quando uma menina atingir 14 anos, as jovens da mesma idade (já iniciada) dançam (maseseto) para ensinar a nova mulher. Os homens não estão admitidos para assistir a esta dança é para apenas mulher que tiram roupa para dança-la. Durante a tal dança batem palmas e usam os “makhacha”. A festa pode acabar uma semana ou mais dias, dependendo das condicoes económicas, ou comida disponível. Estas danças sevem de aulas iniciação e formação duma pessoa ou mulher bem-educada segundo (MEQUES 1999, pp, 23).

As mulheres senas quando chegam à puberdade tatuam a parte superior das costas e baixo-ventre, parte superior do tronco, membros superiores e face, com o simples adornos, com cascas de manga, untura de cerva ou plantas queimadas. Usam ainda cintos de missangas com varias cores e enfeites com fins de estímulos eróticos os quais cai sobre baixo-ventre. MARQUES (1960, p, 17).
Às raparigas é reconhecida a sua capacidade procriadora no início das primeiras menstruações.
     
A iniciação dos meninos faz-se numa maneira diferente de região para região, mas em Zambézia leva 2 ou 3 meses. Durante este tempo os meninos ficam no mato, ficam circuncidados, e aprendem como preparar um corpo morto, e tomar contas. Durante este período, não podem ficar em casa, mas “roubam’’ comida da casa a noite, esta cerimónia já não é muito praticada. MEQUES (1999, p23).

4. O Casamento: Macungudzo

 O casamento tradicional do povo sena realiza-se da seguinte maneira:
  • Chegado o tempo de escolher mulher para casar, o “ sena”, dirige-se a um amigo, o vulgo “ Nhacuvunzira” e encarrega-o de procurar a rapariga escolhida e de a informar sobre as suas pretensões. A escolha recai numa rapariga que seja da sua raça mas de família diferente Mututo. Estes factos são ainda reminiscências do totemismo e a escolha endoganismo.

Iniciando os primeiros passos, o noivo trata de arranjar o “m¢pepe ”- dinheiro para entregar os pais da noiva como prova dos seus intentos. Os pais da noiva fazem o mesmo, os de noivo.
Feito isso, o noivo arranja uma galinha que mata e vai entregar a mulher que escolheu para madrinha,- para que dela faça presente aos futuros sogros e que significa pedir serviço -mulenga Tana” que consiste o noivo antes de casar, servir os sogros por alguns anos. Em continuação das negociações arranja-se “saguate”- dativa mais substancial e valiosa o <<M¢Tonilo>>- o dinheiro ou gado com significado de pedir a noiva em casamento.
     
No sul do vale de Zambeze predomina o”levatia” - o noivo constrói a sua própria palhota com ajuda dos parentes, situado deste modo próximo da casa dos futuros sogros.
Algum tempo depois findo acto sexual o marido sai da palhota, a tia e outra mulheres vão verifica se consumou o acto e a noiva estava ou não virgem. Apoderam-se do despojo e saem da palhota em algazarra, mostrando o pano que ela era pura.
No dia seguinte, os noivos vão banhar-se devendo a madrinha dar banho o noivo e padrinho à noiva ou vice- versa. Esta cerimónia chama-se kussambiça. Do momento que engravidarem não deixa a mulher de manter relações sexuais que só já em estado avançado da gravidez o deixa de fazer. MARQUES (1960, pp, 17).

5. Lei do Auto Conjugal: Mwambo Wa Kupitiswa
     
Geralmente na família sena, a sogra é quem dá as ordens às noras naquela casa. Quando uma nora chega a casa ela pode cozinhar, mas não dividir a comida. As mulheres é que escolhem as partes melhores duma galinha para servir aos homens: a perna, as moelas, o pescoço, o peito, o rabo, o fígado. Ficam para mulheres somente as costelas, pés, asas e cabeça.
     Para servir nsomba (um peixe preto com barbas), ele divide-se em 4 partes: a cabeça vai na mesa dos homens, a barriga às mulheres, a primeira parte atrás da barriga aos homens, e a segunda às mulheres. Depois de jantar, os membros da família falam sobres os acontecimentos do dia, trocam anedotas, e contam estórias que ensinam as crianças. Estes contos chamam-se Pithakhano.

6. Cerimónia de Ensinar Novo Casal (Manyalala)

Dentre as cerimónias de ensinar o novo casal destacam-se:
  • Nyongolo e Maviniro a Nkwangwa: uma dança em que a noiva é ensinada para animara o marido, isto é agradecer ao marido pelas ofertas de roupas que vai comprar para ela durante a vida caseira;
  • Kuphata Nfuta: acção de ungir com óleo, a mulher senta-se na cadeira especial denominada “m¢phando” em que esfrega no corpo em quanto o marido observa. É um tipo de teatro para animar o marido;
  • Kupaswa Mafuwa: fazem esta cerimónia para dar instrução à noiva sobre a cozinha. É cerimónia de entregar à noiva as pedra para cozinhar (Kupaswa mafuwa).

7. A Gravidez: Makhurudzu
     
Quando uma mulher casada fica gravida três meses, ela faz uma dança para mostrar que ela chegou no outro nível da vida. A partir daí ela pode tirar o seio fora do vestidol (que é proibida até aquela altura). Na dança só participam as mulheres idosas e a principal jovem. Um partir desta dança é a verificação na parte da sogra que a nora é realmente gravida. Se a nora mentiu ela está sujeita a morte.

8. Morte: Kufa

Se alguém morrer, tem que se praticar a cerimónia de Kufa. Quando não se pratica, outras pessoas também podem morrer. Para cumprir a cerimónia, matam uma galinha (ou mais) que representa a pessoa morta. Todos comem juntos, guardam os ossos, e quando outros veem de longe mais tarde, estes pegam os ossos, parra mostrar comunhão com a família, e a que veem de longe tem que tomar tabaco juntos ou fumar do mesmo cigarro isto ocorre depois de muito tempo.
     
Até esta completa a cerimónia da galinha, ninguém pode ter qualquer contacto sexual, e se alguém não cumprir esta regra tem que ir ao dono da Kufa[4], e confessar, “não consegui cumprir a vossa Kufa” se não, vai tossir sangue e morrer. Antes do enterro, uma dança de tristeza (chamada use) é dançada usando um só batuque (uma lata). Depois de enterro, dança-se cedo, usando 9 batuques de várias altura.

9. Nomes de Seres Espirituais

  • Nomes de Deuses: deus verdadeiro (mulungu) e o criador de tudo (kulenga). O povo sena adoram mulungu, que e o nzimu (antepassado) de um grande homem. Os primeiros missionários aceitaram mulungu parra o nome de deus.
  • Muya: o termo significa “vento” ou “ar” mas foi introduzido por mansionários para espirito de deus (muya wa mulungu ou muya wa mulungu). Assim acreditam que o ser humano tem três partes: corpo (manungo), alma (ntimaque significa “coração”) e o espirito (muya).
  • Minzimu: são os espíritos dos antepassados mortos e considerado por povo sena como muito santos. As pessoas convidam os mizimus para viver com eles, dão lhes comida e comunicam com eles. Os mizimus protegem as pessoas vivas e servem como mediador entre deus criador.
10. Nomes de Demónios
  1. Madzoka: demónios ou pessoas endemoninhadas. É o poder utilizada por curandeiros. Cristo expulsou Madzoka na bíblia são os demónios que veem a uma pessoa que dizem que são mizimus assim a pessoa torna-se curandeiro.
  2. Cikwambo: Demónio forte, como Cikwangwali.
  3. Cikwangwali: são demónios muito terríveis cheios de maldades. O povo tem muito medo deles que possuem pessoas sem serem convidados, e são muito poderosos.

Ninguém convidada este espirito para viver com eles. Os anyansolos (profeta tradicional) têm dificuldades em expulsar estes demónios das pessoas. Uma maneira em meter a pessoas endemoninhada numa cabana e ascender a casinha com fogo. A pessoa é retirada no último momento da cabana a arder assim pode ficar de Cikwangwali.
  1. Nzunzu: o Cikwangwali do rio ou mar, um tipo territorial que vive na água, MEQUES (1999,pp, 4 à 7)

11.  Médicos Tradicionais (Maganga) do Povo Sena
       
  • Ng¢anga Wa Kunziwa Mitombwe: este é o primeiro, que cura somente com ervas e raízes naturais, “ curandeiro que só conhece medicamentos, e não tem nada ver com demónio.
  • Nyansolo: o nome refere-se “ aquele que tem que sonhar”, para curar identificar a origem duma ou da morte de alguém usa o poder do diabo (os Madzoka), e tem que ficar possuído por um espirito para fazer o teu trabalho.
  • Nyankhundo: especialista na descoberta de feiticeiros este é muito temido pelo mfiti “feiticeiro”, porque sempres consegue descobri-lo. Toca o batuque, depois sobe no telhado da casa já endemoninhado assim começa falar sozinho e persegue até apanhar. Bate o feiticeiro com a cauda dum animal o caso é levado ao régulo ou mambo para ser julgado. Muitas vezes o feiticeiro é morto segundo MEQUES (1999, pp, 14 à 15)

Capítulo: II Língua Cinyungwe (Nyungwe)
     
Cinyungwe, ou Nyungwe, é uma das línguas bantas faladas por mais que 400 mil pessoas em Moçambique, principalmente na margem sul do rio Zambeze, vulgo vale de Zambeze, na província de Tete, desde a fronteira com a Zâmbia até Doa no distrito de Mutarara.

História Cinyungwe
     
"Nyungwe" como nome próprio refere a cidade de Tete, na província de Tete, Moçambique. Assim, a língua Cinyungwe é a língua falada em Tete. E o grupo étnico chama-se "Manyungwe"
Segundo David Livingstone chegou pela primeira vez em Tete em 1856. No capítulo 31 do seu livro "Missionary Travels and Researches in South Africa," ele menciona muitos nomes de pessoas, localidades, plantas medicinais na língua local.
Em tempos modernos, os elementos da Língua Nyungwe de Manuel dos Anjos Martins há sido de grande importância. Publicado em 1991, o dicionário/gramática é a fonte mais extensiva de vocabulário que existe. Em 1997, a Sociedade Internacional de Linguística Moçambique (SILM), iniciou vários projectos de desenvolvimento da língua Cinyungwe, inclusive livros de alfabetização, e compilações de contos tradicionais.
Algumas tradições cultural-identitárias dos povos Nyungwe
     
Casamento Nyungwe
   
É importante perceber, por outro lado, que as normas que constituem a moral duma sociedade ou comunidades não são estanques e fixas. Elas sofrem alteridade, são mutáveis. A alteridade se deve à empréstimos entre culturas diferentes, através do difusionismo [contactos] cultural. Tal alteridade depende outrossim dos contextos ideológicos e económicos que adjectivam uma determinada época- é o que Marx chamou, incessantemente, de tom da época. Nyatsimba Mutota, segundo a lenda, teve que desbravar um campo de cultivo muito extenso (usando a enxada). Primeiro derrubou a mata. E construiu, como rezava a moral, uma casa nas propriedades dos sogros. Mas como a demonstração de sua força foi tão maior, sua fama de homem trabalhador superou as expectativas e ganhou mais esposas tiradas daquele grupo de parentesco. Mas de lá para cá as regras foram sofrendo alteridade e as morais também.
     
A socialização do rapaz na comunidade nyúnguè tem em conta aquilo que torna o homem valente e a construção de uma casa (gowero) conta-se como vital.
A Socialização dos Futuros Noivos na Comunidade Nyungwe
Segundo Moore socialização é o processo pelo qual os novos membros aprendem a enquadrar-se na sociedade e absorvem as regras e a cultura da mesma. Este processo envolve aprender e aceitar os padrões de conduta que estão ligados a determinados papéis que se esperam na sociedade, e que são necessários para que essa sociedades e produza ao longo dos tempos. (MOORE, 2002).
Entre os Nyungwe, ainda numa tenra idade os pais escolhem padrinhos para [socialização] seus filhos. Geralmente os padrinhos são pessoas que não partem da família. O padrinho ou madrinha recebem a designação de nshankulu. Para o rapaz tem de ser um homem e para a menina uma mulher. Os padrinhos é que deverão acompanhar o desenvolvimento dos seus afilhados.

Ritos de Iniciação

Na cultura Nyungwe não existem ritos de iniciação para os rapazes, mas apenas para as raparigas. É durante os ensinamentos rituais que a menina aprende a cuidar do marido, práticas de cuidados com a menstruação e parto.
É durante os ritos de iniciação que a rapariga aprende a puxar os lábios vaginais (matingi) para permitir o seu elastecimento. A função dos matingi é de aumentar o estímulo no homem durante o acto sexual. Uma vagina desprovida desses requisitos pode ser considerada estranha pelo homem [Nyungwe].

Por vezes as raparigas fazem pequenas tatuagens em redor da cintura para originar rugas ou pequenas ondas ao longo da anca. Essas tatuagens também servem de estímulo para o homem. Na cara, como tatuagem, desenhavam uma folha de qualquer planta de estima para aumentar a beleza. Saiba-se que a madrinha da rapariga joga um papel primordial na socialização da futura esposa.

Já Não Constitui Prática Corrente
Algumas práticas como a de tatuar a cara tendem a desaparecer [velozmente]. Não só nas zonas urbanas do sul da província de Tete, área habitacional dos Nyungwe, mas também nas zonas rurais.     No concernente à educação do rapaz, pode se afirmar que é diametralmente oposta. A diferença não reside apenas no facto de serem pessoas de sexo oposto mas no modo de socialização. Por não serem submetidos à ritos de iniciação, a sua educação é garantida pelo padrinho e pelo pai. É dos pais que o rapaz deve aprender a derrubar a mata, desbravar a terra, construir uma casa, ir `a caça, pastar o gado (que é abundante nesta região de Tete) e, assim, a se tornar no homem do amanha:

O Noivo: A construção da casa, o derrube da mata e o desbravamento da terra são saberes importantes para se afirmar como homem socialmente válido-para conseguir ser acreditado pela moça e mormente pelos futuros sogros (wamabwala).

O Namoro (Kudziuana)
     
Entre os Nyungwe, geralmente, o rapaz e a rapariga têm sido jovens da mesma comunidade ou região residencial embora não haja impedimento quanto `a união de pessoas de grupos de parentesco distanciados ou de realidade socio-cultural diferente. Depois dos jovens se apreciarem (geralmente porque costuma se ver no dia-a-dia e nas maltas de brincadeiras) se conquistam (kunyengana). Geralmente a iniciativa de se aproximar ao outro para manifestar intenção de namoro tem sido do rapaz. As vezes com anuência do Nshankulu/padrinho. Sobre o conhecimento mútuo, que conduz ao casamento, segundo ORGILA citado pelo Geraldo Cebola João Lucas defende o seguinte:
     
“Não há dúvida de que havia e há mais possibilidades de se estabelecer uma corrente sentimental entre aqueles que se conhecem antes de se amarem do que de se estabelecer um profundo conhecimento entre aqueles que se amam. O autor diz que o noivado, e não o casamento, é o banco de ensaio do amor entre duas pessoas.” (ORGILA, 1970, p.292-3).
     
Caso a rapariga aceite a proposta do rapaz, de imediato ela vai segredar à madrinha e não à mãe ou ao pai. A madrinha é que transportará a novidade e as características precisas do rapaz para o conhecimento dos pais da rapariga. Com a anuência dos pais a madrinha informa a rapariga que o rapaz será recebido pelos pais.

O Casamento (Kulouola) Nyungwe

O casamento é uma instituição social que visa estabelecer vínculos de união estáveis entre o homem e a mulher baseados no reconhecimento do direito de prestações recíprocas de comunhão de vida e de interesses, segundo as normas das respectivas sociedades. Não se trata de um tipo de partilha qualquer, deixado ao livre arbítrio e inclinações dos intervenientes, mas de uma comunhão de interesses mútuos. (MARTÍNEZ, 2009, p. 121).  
      
A multiplicidade de formas que encontramos nas sociedades ultrapassa, neste caso, universal cultural e as generalizações, pelo que é impossível considerar uma única forma de casamento de valor universal. Entre as variadíssimas formas e normas existentes, permanece sempre o facto da comunhão, socialmente conhecida e regulada. (Idem).
     
“A norma do casamento nas diferentes sociedades contempla as questões que podem aparecer durante a vida matrimonial, isto é, a infidelidade do homem ou da mulher, através do adultério, a ruptura do vínculo, provocando o divórcio, As causas do divórcio variam de sociedade para sociedade. Podem ser: as esterilidades de um dos cônjuges, a impotência sexual, a incompatibilidade de caracteres, as desgraças domésticas, as doenças, os maus tratos, a violação, o concubinato, entre outras.” (MARTÍNEZ, 2009, p. 122).
     
As negociações encetadas pela madrinha da rapariga junto dos pais desta conduzem à eleição duma data para o casamento. A madrinha depois de segredar à rapariga sobre a data ou período da cerimónia convida os padrinhos do rapaz para informá-los e se acertar as formalidades.
     
Condições de Casamento Nyungwe
     
Há condicionalismos a serem observados. Para demonstrar que de facto o rapaz é homem se exige que construa uma casinha no quintal da família da esposa. Atenção que esta construção não tem relação com sistema matrilinear de casamento porque não visa a transferência definitiva do jovem para habitar no quintal dos sogros. Para além de que os filhos não ficam sob tutela dos tios maternos, como reza o sistema matrilinear do norte do Zambeze. A pequena casa construída pelo rapaz recebe a designação de gowero. A exigência da construção do gowero visa provar que de facto o rapaz foi instruído socialmente para enfrentar a vida adulta. Visto que casa é uma das necessidades fulcrais para a edificação duma família. Daí que o padrinho do rapaz, assim como seus pais devem estar certos de que seu filho/afilhado não está preparado para contrair matrimónio caso revele incompetência no concernente a esta matéria. Em segundo lugar, a casa a ser edificada pelo rapaz antes da cerimónia serve também para a primeira noite nupcial e servirá sempre que for de visita de quarto de descanso ou dormida.
     
Como pode se depreender, a construção do gowero é deveras importante, serve de uma das principais provas para os pais e padrinhos de que a filha não estará a se casar com um preguiçoso. Porque para a construção do gowero o rapaz precisa estacas apropriadas, capim, cordas e outros elementos que são explorados da natureza. Como esclarece Inácio Máquina:
     
“…O rapaz deve ser capaz de exibir foça e habilidade no processo da construção por uma questão de credibilidade aos olhos dos sogros e sobretudo da madrinha (n`shankulu wa cikazi). Assim, o corte de estacas (n`sici), paus maleáveis para ligar a estrutura da casa (mbaliro), cordas (nzoi), capim (uswa ou mauswa) para cobertura constitui um trabalho árduo, daí que a consecução do gowero seja fundamental.” (MÁQUINA, 2010 cp).
     
Outra actividade exigida antes de se realizar o casamento é o desbravamento duma porção de mata para se transformar em campo de cultivo (machamba). Depois de derrubar e secar a porção florestal deve queimar (kutentha/lupswa).
     
E por fim desbravar a terra para a sementeira. Esta prova visa não só exibir força, mas também demonstrar que a noiva não irá sofrer de fome quando estiver no lar porque o marido sabe trabalhar a mata para cultivar/produzir. Grande parte da colheita (primeira daquela machamba) será levada pelos dois (noivo e noiva) para o seu lar e os pais ficarão tranquilos por ter certeza de que a filha levou mantimento para o novo lar.
     
A importância da enxada repousa neste contexto produtivo e não apenas na sua apresentação como um objecto. E é este valor simbólico do trabalho ligado `a enxada (phaza) que é transferido para a união ou o selo do casamento com os brincos. Os brincos (mphete) por ser pertença feminina unida à enxada (phaza) perfazem a união e ou selam o casamento. Resulta disso o ditame phaza na mphete (enxada e brinco). A união desses dois objectos é que fortifica a relação.
     
No dia do casamento a comitiva do noivo (padrinhos, pais, e outros familiares ou amigos eleitos) se faz `a casa da noiva. Deve levar consigo dinheiro para o selo do casamento que geralmente deve ser uma nota qualquer, esse dinheiro é o chamado phaza na mphete.
     
Lobolo (Kuthamula N`Sana)
     
Entenda-se que o noivo e sua comitiva não entregam os objectos materiais (enxada real e brincos reais), mas sim uma nota em dinheiro que simboliza os objectos referidos. Para que a família do noivo, na voz do padrinho, comece a falar é preciso dinheiro (cobiri), pede-se um prato à família da esposa e deposita-se algum dinheiro e se começa a falar. Outro dinheiro serve para kuthamula n`sana (endireitar a coluna do pai). A coluna deve ser esticada porque, de algum modo, sofreu no acto do coito com a mãe da noiva. Para além de que se pensa que a efectivação do feto depende do depósito de espermatozóides de forma sistemática e contínua.
Na cerimónia a primeira a falar antes todos os presentes é a madrinha da rapariga. Ela é que introduz a razão do dia e o colectivo que acompanha o noivo a apresentação próprio noivo é feita pela madrinha aos pais da noiva.
     
Depois disso, o padrinho do rapaz pede um prato e a família do noivo deposita um valor em dinheiro no prato como forma de pedir permissão para falar. Depois do padrinho do rapaz introduzir a sua comitiva devolve a palavra à madrinha da rapariga que por sua vez, em comunhão com os pais anuncia o valor a pagar pelo acto de kuthamula n`sana (lobolo em cichangana) ou anelamento. O dinheiro é, geralmente, estipulado em número de cabeças de gado. No geral tem dito uma cabeça ou uma cabeça e seu vitelo (`gombe na mwanace ou n`gombe ikulu na i`gono iace.). Antigamente uma cabeça equivalia a dizer 100,00Mt (mbondo) e uma cabeça e seu vitelo equivalia a 100,00Mt e 50, 00Mt (n`gombe na mwanace); isto no período pós-independência, mas actualmente a moeda está inflacionada e os preços de gado sofreram alteração. O preço mínimo duma cabeça de vaca se situa nos 1500,00Mt e um vitelo está a 800,00Mt. Assim n`gombe ibodzi (uma cabeça) equivale a dizer que o acto de kuthamula n`sana custa 1000,00Mt. No caso de discordância, a família do noivo volta a depositar dinheiro no prato como forma de pedir palavra. Assim os acompanhantes do noivo e este pedem para se isolar por instantes para concertos. Depois disso volta ao local da concentração e pede a redução do valor ou pede para que o pagamento seja feito de forma faseada.
     
É preciso entender que a forma inicial do kuthamula n`sana não consistia no pagamento em dinheiro, mas sim em verdadeiras cabeças de gado e na época era, quase, fácil dado que no geral os Nyungwe eram criadores de gado.
Mas a ligação da região do Estado dos Monomotapas com o comércio internacional, primeiro com os árabes e depois portugueses maioritariamente, bem ao comércio com os missionários transformou a economia de Tete, em economia monetarizada e proporcionou a estipulação dos pagamentos em dinheiro.
Depois se tira um valor em dinheiro para selar a união-phaza na mphete. Caso a união não seja selada e os pagamentos não foram completados o noivo não terá autoridade, futuramente sobre os filhos e por qualquer motivo a esposa pode ir para a casa dos pais.
O phaza na mphete, que mais tarde passará a ser designado (familiarmente) apenas por mphete (por questão de simplificação do termo) serve não apenas para selar o casamento, mas também para dissolve-lo. No caso de divórcio, o valor de phaza na mphete é devolvido à família do noivo ou a ele mesmo. O acto da devolução simboliza o apagar da relação ou supressão de compromisso.

Cerimónia Nupcial
     
Segundo Martínez (op. cit.), a cerimónia nupcial que manifesta socialmente a decisão dos contraentes, se pode reduzir a um simples acto jurídico, ou a um processo ritual mais complexo, rico em cerimónias e símbolos, composto por viárias fases com períodos de tempos mais ou menos prolongados. O casamento tem também uma dimensão comunitária, que requer além da presença das respectivas das famílias cônjuges, a participação dos membros da comunidade, ou ao menos, os seus representantes mais significativos. Nunca se trata de um assunto privado. Também o carácter festivo forma parte da celebração do casamento em todas as culturas. Este carácter se manifesta através da apresentação dos próprios contraentes, do vestuário dos participantes, do tempo decidido à celebração, do banquete com comida e bebida com qualidade e abundante, na ornamentação do ambiente exterior e na solenidade do ritmo. (MARTÍNEZ, 2009, p.122).
     
Entre os Nyungwe também se verifica festa no casamento. Geralmente a família do noivo prepara e leva consigo bebidas para acompanhar a refeição do dia. O que se bebe no geral é m`buadua (pombe) -uma bebida tradicional fermentada com base no milho ou mapira e maxoeira. Actualmente tem sido costume o noivo levar garrafão de vinho para servir de suporte o que foi preparado.
     
O gowero serve, também, para a demonstração da virgindade da rapariga e da potência sexual do rapaz. A reprovação da rapariga nesse teste (de virgindade) pode levar o rapaz a renunciar a intenção de formar um lar com a rapariga ou então à redução do valor do kuthamula n`sana. Dzico Viagem explica o seguinte:
     
“…Na primeira noite, naquele gowero que o genro (nkuasa) construiu é praticado o primeiro encontro sexual entre os futuros cônjuges. À rapariga é oferecido um lencinho (pano branco) para levar consigo à palhota (gowero). O rapaz ao introduzir o pénis deve encontrar pequenas barreiras que sejam sinais de virgindade e a prova máxima disso deverá ser o sangue que a noiva vai perder por perder a virgindade.
     
Por outro lado a noiva é instruída a colher parte dos espermatozóides e dobrar o pano. No dia seguinte o pano deve estar bem apegado ou por outra palavra, colado pela força colante dos espermatozóides, caso contrário será prova segura de que o rapaz é estéril. E a possibilidade de casamento pode ser anulada ainda cedo. Se o lencinho colar seguramente será prova de que o homem é reprodutor…” (VIAGEM, 2010 cp).
     
E se na primeira noite, do gowero, o rapaz não conseguir estar excitado ou ter dificuldades de introduzir o pénis na vagina. A moça poderá reportar a situação à madrinha e se concluir que o noivo é impotente. Assim, se o rapaz não consegue introduzir o pénis não reúne condições para ocupar a afilhada. É preciso entender que toda informação passa pela madrinha em primeiro lugar.

O Impacto da Globalização Sobre o Casamento Nyungwe
     
A necessidade da aprovação social do casamento continua a constituir uma realidade entre os nyúnguè. No entanto, há opções diversificadas em termos rituais por causa da multiplicação de seitas religiosas e hibridade populacional. No entanto, por mais que vá ao registo ou igreja, a parte tradicional do casamento ainda se conserva como prática indispensável embora com algumas concessões ou modificações. De qualquer das formas os noivos devem aparecer em público para que o casamento seja aprovado e legitimado.
     
Na maioria das comunidades os rapazes e as raparigas (Manyungwe) não casadas não estão livres de acasalar-se em uniões temporárias, sujeitos a barreiras do incesto, da exogamia e regulações sociais como triunfo nas suas comunidades. Mas existem tribos que consideram a castidade dos não-casados como uma virtude, especialmente nas raparigas e um lapso é severamente censurado ou punido. Entre os Nyungwe a castidade feminina era regra exigida. A primeira noite nupcial no gowero servia para provar se a rapariga era virgem. A rapariga deveria perder sangue no acto sexual como sinal de perda de virgindade. No caso de não se provar virgindade da rapariga, a relação terminava, os outros rituais não eram observados por causa da impureza da mulher. Por outro lado, no caso dos espermatozóides não fizerem colar o lencinho que a rapariga levava para a relação com o fim de captar parte dos espermatozóides se concluía que o rapaz era estéril e a noiva poderia abdicar-se de casar com o jovem. Mas estas práticas foram abandonadas por causa de estigma que as conotam e pela falta de comprovação científica das técnicas que eram usadas. Para que a rapariga case (já) não é preciso que seja casta ou por outra, virgem. E o que pode provar que o rapaz é estéril são consultas médicas em hospitais.
     
Malinowski (1967:32) argumenta que o rito do casamento é como uma regra e também como um acto ritual com um significado simbólico, e como tal o rito é geralmente concebido) para possuir uma eficácia mágica; ele contém um preceito moral ou expressão de um princípio legal.
     
Uma das formas de obter esposa e o direito aos filhos dela é trabalhar para eles (os sogros). Hoebel e Frost (1995: 195) referem que Jacó trabalhou sete anos para ganhar a mão de Raquel, mais sete anos para ganhar a mão de Lia. A história do Centro de Moçambique evoca a lenda de Mwenemutapa que trabalhou no desbravamento de grande machamba para casar uma mulher local: da região situada entre os rios Luia e Mazoe. Pode-se depreender que na cultura nyúnguè a descendência se baseia na linha parental do noivo (pai).
     
O kuthamula n`sana (lobolo em cichangana) ou valor de anelamento pago à família da noiva é a progênie para a cultura Nyungwe. Como se afirmou, o dinheiro (progênie) é, geralmente, estipulado em número de cabeças de gado. No geral tem sido uma cabeça ou uma cabeça e seu vitelo (n`gombe na mwanace ou n`gombe ikulu na i`gono iace.). No entanto em nossos dias a progênie é estipulada em valores monetários e nada quase em gado. Mesmo em regiões que produtores excelentes de gado como sul do distrito de Changara (Marara e outros Postos Administrativos) o preço da progênie é estipulado em dinheiro. É preciso sublinhar que, neste caso, o efeito da globalização não elimina a prática ritual. Mas os objectos utilizados para o ritual mudam, no entanto o seu valor simbólico não muda nem desaparece. Deste modo se prova que a cultura se apropriou das novas formas mas não do conteúdo. O que se regista não é crise de identidade, mas um reajuste ao tom da época, reconhecimento do novo contexto: uma espécie de resposta `a realidade global para que não seja marginalizada. Por outro lado, a força do tribunal e das igrejas na interferência sobre assuntos do casamento não anulam as práticas rituais do património identitário.

A Tradição “Formal” (Divorcio)

 A constatação de Malinowski sobre o divórcio e seu significado na comunidade é importante:
“A regra geral é de que o divórcio é possível mas não é fácil e provoca danos e desabilidades a ambos os cônjuges. Mesmo onde o divórcio é facilitado para o marido ou esposa, se regista o pagamento de um considerado preço que deve ser pago pelo divórcio ou pela liberdade para divorciar e isto é fácil apenas para os que são sucedidos economicamente. E, geralmente, o divórcio envolve a perda de prestígio e estigma moral.” (MALINOWSKI, 1967:25).
     
Entre os Nyungwe acontecia o mesmo. A cultura patrilinear Nyungwe era tão machista ao ponto de manter na clandestinidade a esterilidade do homem. Está na razão disto, a concepção de que o homem que é estéril não difere de mulher é desprezado pela própria esposa e pela comunidade. A notícia de que esta ou tal mulher é estéril era difundida pelos grupos de homens para que nenhum homem a pretendesse por engano, dado que ele mesmo cairia no lenço da vergonha. Mas não constitui vergonha divorciar. E a esterilidade[5] já não é tão estigmatizada[6] culturalmente. Neste trabalho defende-se que o que é bom e proveniente da globalização[7] é acatado. Pensa-se que o combate a estigmatização pela esterilidade é um ganho para a cultura local. O homem estéril (Ngomwa) já não é estigmatizado com a mesma violência marginalizadora de antes. As notícias de aluguer de barriga; o recurso de outras técnicas que a medicina oferece para que um casal possa ter filhos; a normalidade com que se encara adopção de filhos não-biológicos são factores que contribuem para a redução profunda de preconceitos confinantes a defeitos genéticos ou biológicos.

Capítulo: II EChuwabo (Cuabo)
     
EChuwabo é uma língua falada na região à volta da cidade de Quelimane, na província central da Zambézia, em Moçambique. É uma língua bantu, da grande família Níger-Congo e do grupo das línguas Emakhuwa.
     
Historia chuabo
     
Os Chuabos
     
O nome Chuabo é de origem Loló e designa o povo do litoral zambeziano entre Pebane e a foz do grande rio. O fundo populacional da região é de estrato lomwé e a mitologia local considera os Chuabos oriundo do monte limeme em Tacuane. A maioria dos autores que escreveram sobre este povo, dizem nos originários dos Maráveis, por conseguintes aos Nyanjas e aos Chewas de Tete e de Niassa. Mas, mais correcta parece ser a tese que considera os Chuabos uma etnia mais recente resultante da miscigenação dos povos que percorreram o vale de Zambeze devido as guerras e ao comércio.
Se entendermos os restantes da população da Província da Zambézia, o fundo populacional conhecia uma filiação matrilinear. É através do estudo da economia política do país. Chuabo que das terras compreenderemos as transformações actual do sistema patrilinear.
     
Todo chuabo se considera descendente de um antepassado remoto, todos indivíduos com este antepassado formavam antigamente um clã e consideravam parentes. Segundo a velha tradição lomwe, o clã tinha por formadura uma matriarca: a descendência fazia-se por uma via uterinal, por isso o clã era matrilinear, os membros do mesmo clã não podia casas entre si.
     
Modernamente os clãs deixaram de ter a sua importância de outrora e regista-se uma forte tendência paternal com a constituição das matrilinear “anamudhi”.
      
A pessoa mais importante da antiga família matrilinear eram irmão mais velho da mãe, mas hoje é o tube ou seja, o avo paterno chefe da mudila (famílias alargadas patrilineares)
     
No passado os jovens tinham grande respeito pelo tio, o procuravam mais vezes a sua casa do que a casa da mãe. Era o tio paterno que detinha nas suas mãos, as rédeas do governo e quem resolvia todas as questões familiares. As relações de parentesco entre o tio e sobrinho e reciprocamente atentam hoje antiga instituição do avunalato, apesar da patrilinearidade se instituir cada vez mais, obrigando-o a largar consultas das contra partes na busca de solução para os litígios que envolvem os sobrinhos e outros parentes.
     
Antigamente não existia propriamente uma compensação matrimoniar mais só oferendas feitas pelo noivo à família da noiva. Mais pouco a pouco com a restruturação da família alargada chuabo, em situação colonial, a própria virgindade da rapariga passou a ser apreciada. Por causa da compensação matrilinear, chamada péthe (lobolo), a viúva devia casar prioritariamente com um varão da família uterinal do marido. Em causa de recusa tinha que devolver o péthe. E quando uma mulher se divorciava, deixava com o ex-marido os filhos mais velhos.

Ritos de iniciação -circuncisão e o tempo no namuhakwani

Segundo Valente de Matos, “cerimónia decorre da seguinte maneira: os iniciandos acompanhados dos padrinhos vão sentar-se em linha próximo da barraca do circuncidador, todos voltados para a mesma banda. Ensinar de respeito para com o mestre operador, mantem se de cabeça baixa. (…) Logo que os rapazes se sentaram no chão na ordem prevista o circuncidador surge a porta da sua palhota empunhando o rabo dos medicamentos Mila, e avança em direcção aos rapazes pondo o rabo estendido sobre cada uma das cabeças. É no momento quando o mestre da circuncisão coloca o rabo do boi-cavalo na Cabeça de cada iniciandos e a deixa ficar em equilíbrio, que cada uma faz entrega duma moeda em valor consoante a idade de rapaz. Em tempos mais remotos pagavam-se com galinha, enxadas, cordoes de missanga e muito mais.
     
A imposição de rabo anda ligada a crença de que se mantiver em equilíbrio o rapaz há-de ter filhos, se ao contrário o rabo cair ao chão é o indício de que o circuncindado não terá filhos, por simples esterilidade ou fítico.
     
Terminada esta cerimónia, o velho circuncidador retira-se e, depois de se munir de todos os apetrechos necessário a operação da circuncisão:
  • Um cesto (mavuku) com varias facas (myàlo) e um corno de antílope cheio de medicamentos em pó (estutha) para provocar a fecundidade, vai se instalar no local de circuncisão.
  • Os adultos dizem aos rapazes que vão encontrar nesse local uma grande colmeia, mas que não deverão ter medo pois isso significara uma grande falta de coragem.
  • Todavia os jovens vivem em momentos de trágica ansiedade, por quanto ignoram tudo quanto esta para lhes acontecer.

Os iniciandos dispõem-se em fila, ficando a frente os filhos dos escravos, se os houver e, depois os filhos dos homens livres, noutros lados e em épocas mas recentes, o primeiro da fileira era um filho de chefe ou pessoa importante, e essa posição era considerada um privilégio.
Os padrinhos tapam-lhes os olhos e, quando chegam próximo do circuncidador, os ajudantes arrancam-lhes violentamente as trangas (ikara) e arruam-nas para o lado ao mesmo tempo que, agarrando os jovens pelas pernas os deitam de costas, muito justamente os ajudantes são chamados os milhafres (ashaka) num epiceno velho circuncidador toma o pénis do moco distende-lhe o prepúcio (ntusu) e corta-o de um só golpe. O rapaz só tem tempo de lançar um grande grito de dor, pois que e retirando imediatamente pelo padrinho e levando para um lugar, não muito distante, onde todos vão se ajudar.

Mas para nascente, em Ribaué por volta dos anos 50 o circuncidador procedia ao corte com um objecto de ferro, afiando numa das extremidades chamado nejembo.puxava a pele que cobria a grande e extraia dela um anel da extremidade. O mestre da circuncisão estava mascarado para não ser reconhecido pelos rapazes, essa mascara que usava chama-se otambo apos cada corte, o circuncidador aplicava na ferida um remedio chamado mutupulo obtido da casca de árvore Manágua, um outro, designado pelo termo wachila-wacueque, o significado e wachila (moer) designa a operação feita pelas mulheres quando estão a moer a mapira nas pedras que usavam para o efeito.
     
As mulheres executavam esse trabalho de joelho no chao,fazendo movimento de trás para diante com as ancas pelo que provocam nos homens que as observavam desejos sexuais, o termo “wacuveque’ quer dizer: depressa rapidamente. Deste modo, havia a crença que o referendo remedio aplicado no pénis apos o corte do prepúcio daria ao rapaz grande desejo pelas mulheres.
Nas regiões orientais, mais próxima da orais o tambor (ekalawe) obedecido as instruções do operador, retena a acção dos ajudantes e do padrinho do iniciando, há sons para que a fila se desloque lentamente, sons para marcha, sons para correr, para tomar a casa, para lamber o mel, finslmente para o corte de prepúcio.
Para evitar que os outros rapazes dançam os gritos, os tambores soam internamente, e, por cima das árvores estão empoleirados alguns homens que imitam os zumbidos das abelhas.
Se durante a operação e circuncidando urinava ou defecava de dor ou de medo era obrigado a conspurcar-se para mas tarde, relações normais com a esposa.
A partir corte do prepúcio os rapazes circuncidados recebem o nome de alukhu, termo particularmente honroso e dignificante, usado na vida social como afirmação de palavra da honra. Durante a caminhada os jovens vão cantando o refrão ou repetem asa canções entoadas pelos adultos.
     
Vimos já que algumas a partida para o mato se faz ante s da dança da “mwanamá” a que estes se executam durante a noite nas proximidades do recinto da iniciação. Quando assim é os presentes que foram participar nela retiram para as aldeias, as mulheres principalmente não mais poderão voltar aquele local antes de terminadas de as cerimónias. Esta dispersão faz-se de um modo violente e deixam de tocar. Então os dançarinos desfazem a roda, rompem e desenfreada algazarra, correm por entre os bambus e vergastadas, e avançam um contra os outros acostando-se mutuamente e clamando oravo!... oravo!... (isto é abelhas!.. Abelhas!). Aturdidas por aquela guerra feroz, as mulheres presente debandam em fuga desordenada para suas casas pois que de contrário seriam perseguidas pelos homens. É de realçar que os iniciandos não participam na dança e que se mantem silenciosos no outro barracão

Considerações Finais

O grupo atribui as considerações finais presente trabalho que, as culturas dos povos Sena, Nyungwe/Nhúngue e EChuwabo/Chuabo, suas tradições cultual-identitárias assemelham mas, não na totalidade, os povos Sena, Nyungwe/Nhúngue e Chuabo etnologicamente são atribuídos estas designações por serem falantes das línguas dos mesmos nomes respectivamente.
Apesar da globalização as culturas dos povos em pesquisa recebem as forças de mutação global, mas elas não substituem, por completo, as identidades culturais específicas nos alguns arredores dos centros urbanos.

Referência Bibliográfica

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Martins, Manuel dos Anjos. 1991. Elementos da língua Nyungwe. Missionários Combonianos. Roma.
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