segunda-feira, 31 de julho de 2017

Moçambique, uma cultura rica e uma história de vida sofrida



Belezas naturais, um povo amigável, uma cultura rica, e uma história de vida sofrida. Assim é Moçambique. O Brasil vem dando atenção especial ao continente africano. Hoje (9/11), trinta e seis países da Africa têm projetos brasileiros de capacitação técnica. O repórter Adilson Mastellari, enviado especial que acompanha a visita do presidente a Maputo, capital moçambicana, conta uma parte dessa história.

Cultura Moçambicana


Moçambique é um país com uma herança cultural diversificada e rica. As culturas e as tradições do Islão, Suaíli, Bantu coexistem harmoniosamente no país. Grupos étnicos constitui uma grande percentagem da população, e incluem Shangana, Chokwe, Ma'ndaus, Ma'senas e cultura Makua entre outros. 

Outros grupos incluem os descendentes de europeus, euro-africanos. Mesmo que o país possui uma variedade muito grande de línguas, relações sociais e tradições artísticas, os moçambicanos partilham uma cultura comum com muito amor que é expresso de várias maneiras, tais como música, poesia, dança dinâmica e interesse comum performance. Outro interesse comum é o seu amor ou futebol, este desporto está como a actividade desportiva favorita da nação Moçambicana. A selecção de futebol de Moçambique chama-se "Mambas" que é nome de uma espécie de cobra. Eles competem  regularmente com outras nações africanas em seus campeonatos de futebol.

O português é a língua mais falada em Moçambique e é usado para negócios, educação e negócios do estado. Muitas línguas indígenas ou dialetos  também são faladas. Moçambicanos com uma educação melhor também falam Inglês fluentemente. Em Maputo e muitos outros destinos turísticos em Moçambique, o Inglês é amplamente falado. Nas áreas do norte do país que você vai encontrar linguagens como o Swahili por influência da Tanzânia que faz fronteira com a região norte de Moçambique.

Principais Grupos Étnicos de Moçambique


Moçambique possui uma rica e longa tradição cultural de coexistência de diferentes raças, grupos étnicos e religiões, ora isto reflecte a diversidade de valores culturais que em conjunto criam as identidades do Moçambique moderno. Apesar de possuir uma diversidade cultural e religiosa diferente de outros lugares raramente serve de razão para gerar conflitos entre os povos de Moçambique.
Com o objectivo de criar uma identidade nacional, o Português foi adoptado como língua oficial depois da independência. No entanto, existem em Moçambique cerca de 20 grupos linguísticos e eles são contrários ao Português largamente falado, especialmente nas zonas urbanas e hoje, cerca de 25% da população fala Português.

A constituição da República de Moçambique estabeleceu o princípio segundo o qual o estado promove o desenvolvimento da cultura e personalidade nacional e garantiu a livre expressão das tradições e valores da sociedade moçambicana.
Efectivamente, a cultura deve ser entendida como um componente determinante da personalidade dos moçambicanos e considera-se a sua valorização como um elemento fundamental para a consolidação da unidade Nacional, da identidade individual e do grupo.
Os povos que habitam actualmente Moçambique são incluídos no grande grupo dos Bantu, que povoa quase toda a África a Sul do Sahara. Dentro deste grupo há muitas sub-divisões, ou etnias. Vejamos algumas noções elementares das principais etnias de Moçambique, divididas, segundo muitos autores, em mais de oitenta sub-grupos.

1. Conceito de etnia

Historicamente, a palavra etnia significa “gentio”, proveniente do adjectivo grego ethnikos. O adjectivo se deriva do substantivo ethnos, que significa gente ou nação estrangeira. É um conceito polivalente, que constrói a identidade de um indivíduo resumida em: parentesco, religião, língua, território compartilhado e nacionalidade, além da aparência física
Um grupo étnico é um grupo de indivíduos que têm uma certa uniformidade cultural, que partilham as mesmas tradições, conhecimentos, técnicas, habilidades, língua e comportamento.
A sociologia Africana, considera que uma etnia  ou um grupo étnico é grupo de pessoas que têm uma herança sociocultural comum, como uma língua e tradições comuns.

Encontramos uma diferença enorme entre Etnia, Tribo, Clã e Linhagem. A sua diferença com a Tribo, surge no facto de que a Tribo referir-se a um conjunto humano que reúne várias famílias sob a autoridade de um mesmo chefe e num espaço territorial dado. A Etnia difere do Clã, visto que este último refere-se a um grupo de pessoas que têm um ancestral comum. Finalmente difere de linhagem, uma vez que esta é uma descendência.

Noutras palavras, os povos ou as populações de ascendência comum constituem etnias; as etnias subdividem-se em tribos, as tribos em clãs e os estes em linhagens. Em todos os países, cada pessoa tem origens étnica, tribal, clânica e de linhagem
Antes da Conferencia de Berlim (Alemanha) de 1885, África era subdivida em Nações verdadeiras cada uma das quais habitadas por pessoas de ascendência comum. Os países africanos resultantes da Conferência de Berlim são compostos de várias etnias, quer dizer de várias nações, culturas e tradições.

2 Principiais grupos étnicos de Moçambique

Em Moçambique, existem diversos agrupamentos humanos com características socioculturais específicas. Ainda não há unanimidade no que se refere a uma designação genérica desses grupos. Por razões óbvias, durante o período colonial esses grupos eram designados por tribos, etnias ou grupos étnicos. O termo povo, embora fosse utilizado por alguns antropólogos e historiadores, não teve um uso sistemático referido a essas entidades.
De acordo com essa informação (MINED, 1986:36), os povos de Moçambique agrupar-se-iam de acordo com uma característica cultural que se apresenta mais ou menos comum em algumas regiões do País: os regimes de parentesco. O rio Zambeze constitui-se numa fronteira natural desses regimes em Moçambique.

A norte daquele rio localizam-se os povos matrilineares: Makonde, Yao, Makhuwa, Nyanja e outros localizados no Zambeze superior, como os Nsenga e os Pimbwe, por exemplo. A sul, encontram-se os povos patrilineares congregados nos seguintes grupos: Shona, Tsonga, Chope e Bitonga. Entre os povos patrilineares figura também o grupo Nguni, cujos núcleos se encontram espalhados pelo País.
No Vale do Zambeze, uma zona de transição, situam-se povos de simbiose das influências matrilinear e patrilinear, dos quais se destacam: Chuwabo, Sena e Nyungwe. Para além dos grupos identificados, existem outros localizados na costa norte, cuja característica particular é a influência patriarcal islâmica que apresentam: são os Mwani.

2.1  Os makondes

Os Makonde localizam-se no extremo norte, junto ao rio Rovuma. Encontram-se igualmente no sul da Tanzânia, em número maior que em Moçambique. Apresentam como traços culturais particulares a escultura em madeira, o uso de máscaras nas cerimónias relacionadas com os ritos de iniciação e a execução da dança tradicional conhecida por “mapico”. Foi em Mueda, centro dos Makonde, que em 16 de Junho de 1960 as autoridades portuguesas reprimiram uma manifestação política da população local assassinando várias centenas de pessoas, fenómeno que passou a ser conhecido na história por Massacre de Mueda. Foi na região dos Makonde, no posto administrativo de Chai, que em 25 de Setembro de 1964 é desencadeada a Luta Armada de Libertação Nacional, 47 anos depois que essa mesma região se constituiu no último foco da submissão à ocupação militar portuguesa.

2.2 Os Yaos

Os Yao, também conhecidos por Ajaua, ocupam a região junto ao lago Niassa e o norte da província com o mesmo nome. Os Yao também se encontram no Malawi e no sul da Tanzânia. Fontes históricas revelam que os Yao eram bastante activos o comércio à longa distância, ligando as regiões do interior com a costa do Índico: Quílua, na Tanzânia, e Ilha de Moçambique. Antes dos finais do século XVIII eram os principais fornecedores de marfim. Segundo Rita-Ferreira (1982:124) os Ajaua transitaram para as formas de comércio internacional com Quílua e Ilha de Moçambique de uma forma gradual, a partir de trocas regionais restritas e regionais de peles, produtos agrícolas e utensílios de ferro até atingir o nível de uma florescente e bem organizada exportação de marfim, nos finais do século XVIII. Rita-Ferreira diz ainda que no primeiro quartel do século XIX os Ajaua tinham-se transformado nos maiores fornecedores de escravos exportados para Mossuril (ibid.:285). Dado o seu contacto regular com a costa de influência muçulmana, os Ajaua islamizaram-se mais cedo que os outros povos do interior. Entretanto, uma islamização significativa viria a acontecer depois de 1890, em  resposta à pressões trazidas pela ocupação colonial (Cf. Ibid.:289).

2.3 Makuwa

Os Makhuwa, por vezes considerados como duas entidades diferentes, constituem a etnia de Moçambique dispersa por um vasto território que no passado se estendia, do rio Zambeze ao rio Messalo, a Sul e Norte, respectivamente, do Oceano Índico, a Este, até à actual fronteira com o Malawi, a Oeste;
Na actualidade, com o centro em Nampula, os Makhuwa-Lomwe espalham-se para partes das províncias de Cabo Delgado, Niassa e Zambézia. Importantes agrupamentos Makhuwa encontram-se também no Madagáscar, no sul da Tanzânia e no Malawi, também a sul. Os Makhuwa reclamam, segundo a tradição, uma origem mítica comum, como comuns são também a sua organização sócio-familiar e a língua que falam. Alguns estudos advogam ser este o grupo bantu mais antigo desta parte da África Austral.
Entre os makuwas, as linhagens familiares estão extensivamente representadas em todo o território [étnico], levando-nos à conclusão do íntimo parentesco existente entre as gentes que constituem aquilo a que tem sido uso apodar de “tribos” Macuas. Igualmente, se encontram as mesmas linhagens familiares (mahimo) em todas as “tribos” Macuas e Lomues, cada qual reportando-se ao mesmo fundador antepassado. O que nos permite reconhecer que todas as chamadas “tribos” Macuas e Lomues são afinal um mesmo povo, embora por vezes assumindo variações regionais (1970:106).

2.4 Maraves

A norte do rio Zambeze, na província de Tete e na parte ocidental da província do Niassa, encontram-se os Marave. Os de Moçambique tomam a designação de Nyanja, enquanto os de Malawi são chamados Chewa.  Para além do Malawi, importantes sectores do povo Nyanja se localizam na Tanzânia, Zâmbia e Zimbabwe. Os Marave são associados ao império do mesmo nome que se desenvolveu nas regiões onde hoje é Zambézia e Nampula, por volta dos séculos XVI e XVIII e que, tal como os Ajaua, se envolveu no comércio de marfim e de escravos. Possuem uma organização matrilinear e tradições culturais particulares.
Junto ao rio Zambeze concentram-se inúmeras etnias com características específicas e exteriores aos grupos étnicos referidos, como são os casos dos Chuwabo, Sena e Nhnungwe, designados habitualmente como “Povos do Baixo Zambeze”.

2.5 Shonas

Os Shona ocupam os territórios entre os rios Save e Zambeze, subdividindo-se em três grupos distintos: Ndau, Manyka e Tewe. De uma forma geral, surgem espalhados pelas províncias de Manica, Tete e Sofala e, ainda, por algumas províncias do Zimbabwe. Esta etnia está associada às ruínas do grande Zimbabwe, entre outros amuralhados de pedra da região.
Shonas ou Xonas são um grupo de povos de línguas bantu que habitam o Zimbábue, a norte do rio Lundi, e no sul de Moçambique. Foram notáveis por suas peças de ferro, cerâmica e música, dentre os quais podem ser destacados os zezuru, karanga, manyika, tonga-korekore e ndau. Com numeração cerca de nove milhões de pessoas, que falam uma série de dialetos relacionados cuja forma normalizada é também conhecida como Shona (Bantu). Um pequeno grupo de imigrantes falando Shona dos anos 1800 também vivem na Zâmbia, no vale do rio Zambeze, na área de Chieftainess Chiawa. O Shona era tradicionalmente agrícola cultivando feijão, amendoim, milho, abóboras, e batata doce.

Os ndaus são um grupo étnico que habita o vale do rio Zambezi, do centro de Moçambique até o seu litoral, e o leste do Zimbábue, ao sul de Mutare. Os ancestrais dos ndaus eram guerreiros da Suazilândia que se misturaram com a população local, constituída etnicamente por manikas, barwes, tewes, nas províncias moçambicanas de Manica e Sofala. A população local do Zimbábue, antes da chegada dos Gaza Nguni, descenderia primordialmente de Mbire, próxima à actual Hwedza. Os ndaus falam um idioma que pertence à família linguística xona, o ndau.

2.6 Bitonga e Chope

Os Bitonga e os Chope concentram-se no sul do país, junto à costa, e nos arredores da cidade de Inhambane, os primeiros, e numa faixa que vai para mais a sul, os segundos que também povoam parte de Gaza, mantiveram ao longo dos séculos uma proximidade cultural com os Tsonga.
Os chopes são dos distritos de Zavala e Inharrime, na província de Inhambane. Este povo viveu tradicionalmente da agricultura de subsistência. Historicamente, alguns chopes foram escravizados e outros tornaram-se trabalhadores migrantes na África do Sul. Os chopes são conhecidos internacionalmente pelo instrumento musical mbila e dança associada, uma manifestação cultural conhecida desde o tempo de Gungunhana, que foi considerada pela Unesco, como Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade. Os chopes identificam-se culturalmente, como povo, com o elefante.

2.7 Os Tsongas

Os Tsongas subdividem-se em três grupos particulares: os Ronga (do extremo Sul até ao rio Limpopo), os Changane (junto ao rio Limpopo) e os Tswa (a norte do rio Limpopo e até ao rio Save). Possuem uma organização patrilinear. Os Tsonga constituem o grupo que, durante os três últimos quartéis do século XIX estiveram sob influência directa do império nguni de Gaza.
Landins ou Vátuas, era o nome genérico dado aos indígenas de Moçambique, a sul do rio Save. Tinham tradições guerreiras sendo o seu último grande imperador, Gungunhana o Leão de Gaza, sido destronado pelos portugueses depois de grandes combates entre 1894 e 1895.
O grupo Tsonga tem continuidades nos territórios da África do Sul e da Suazilândia.

BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA

FERREIRA, Antonio Rita.  Agrupamento e Caracterização Étnica dos Indígenas de Moçambique. Disponível em: http://www.malhanga.com/flipbook/estudos.documentos/

IVALA. Adelino Zacarias. O ensino de História e as relações entre os poderes autóctone e moderno em Moçambique, 1975-2000. Doutorado em Educação/Currículo. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo. 2002

Cultura do Povo Ndau


Ndaus

Os ndaus são um grupo étnico que habita o vale do rio Zambezi, do centro de Moçambique até o seu litoral, e o leste do Zimbábue, ao sul de Mutare.

Os ancestrais dos ndaus eram guerreiros da Suazilândia que se misturaram com a população local, constituída etnicamente por manikas, barwes, tewes, nas províncias moçambicanas de Manica e Sofala. A população local do Zimbábue, antes da chegada dos Gaza Nguni, descenderia primordialmente de Mbire, próxima à atual Hwedza.

Língua

O ndau (ou xiNdau) é o idioma falado pelos ndaus, grupo étnico que habita partes de Moçambique e Zimbábue.

É parte da família lingüística xona, falado nos distritos do sul da província de Sofala, Machanga, Chibabava, Búzi, bem como em Nhamatanda, Dondo e Beira (Bangwe), assim como em Machaze e Mossurize, na província de Manica (Danda). Também é falado em Nova Mambone, no norte da província de Inhambane).

Os ndaus também falam o português, em Moçambique, e o inglês, no Zimbábue. Neste país é falado principalmente nos distritos de Chipinge e Chimanimani.


Arte Ndau

Segundo o Ethnologue, estimou-se que havia cerca de 1 900 000 falantes do ndau em Moçambique e 800 000 no Zimbábue.

Política

A Renamo, segundo principal partido político de Moçambique, consegue boa parte de seu apoio político dos ndaus da província de Sofala (onde seu líder, Dhlakama, nasceu, assim como o arcebispo católico de Beira), em parte devido às suas condições sócio-econômicas extremamente precárias, e por sua falta de inclusão dos programas de investimentos financeiros estrangeiros e de desenvolvimento econômico promovidos pelo partido governante.

O primeiro presidente da ZANU no Zimbábue antes da independência foi Ndabaningi Sithole, que nasceu na região próxima ao monte Selinda. Depois de Robert Mugabe assumir o poder, Sithole formou seu próprio partido, ZANU-Ndonga, que ganhou cada vez mais apoio da comunidade ndau. Devido à relação tumultuosa entre Mugabe e Sithole, a população ndau do Zimbábue nunca apoiou totalmente o governo daquele.

Etnia Sena, Nyungwe e Chuabo de Moçambique

Conceitos Básicos



A antropologia é comumente definida como o estudo do homem e de seus trabalhos. Assim definida, deverá incluir algumas das ciências naturais e todas as ciências sociais; mas, por uma espécie de acordo silencioso, os antropólogos tornaram como campos principais o estudo das origens do homem, a classificação de suas variedades e a investigação da vida dos chamados povos primitivos (LINTON apud MELLO, 1986 p. 18.).
     
Cultura é este conjunto complexo que inclui conhecimento, crença[1], arte, lei costumes e várias outras aptidões e hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade. (LEVI-STRAUSS, apud MELLO 1986, p. 397).
     
O termo Anthropos deriva do grego e significa “estudo do homem” ou “ciência do homem”. Fica confuso ao se perceber mais um significado de estudo do homem, esta tradução se encontra em outros termos como: genética, sociologia, zoologia, psicologia e muitos outros, mas o que realmente diferencia o estudo em foco é exatamente o objeto material, que envolve diversos casos. O Conceito Antropológico de Cultura Segundo Luiz Gonzaga de Mello

Capítulo: I XiSena
     
A Língua XiSena vulgarmente conhecida por Sena é uma das línguas bantus mais falada em Moçambique (antiga colonia portuguesa em Africa, pais localizado na parte Austral de Africa e faz fronteira com o Africa do Sul, Zimbabwe, Malawi, Tanzânia e Zâmbia). Das 11 províncias moçambicanas o XiSena é falado em 4 províncias nomeadamente Sofala, Zambeze, Manica e Tete. A língua sena é falada no Centro do país contemplando cerca de milhões de pessoas. Moçambique tem actualmente cerca de 22 milhões de habitantes.

Os Senas

Ocupam os senas toda área compreendida pelas terras marginais do rio Zambeze, desde Tambara (Manica), circunscrição de Chemba (Sofala), ate ao delta do grande rio, concelho do Chinde (Tete e Zambézia), com excepção[2] de uma pequena faixa correspondente a área do Posto Administrativo de Ancuaze, que é habitada por indígenas que se dizem pertencer ao grupo dos Maganjas e que tem características muito distintas na indone e nos hábitos.
Os senas descendem de um grupo de indinas conhecidos por ba-sengas oriundo dos mucaranjas, que desceram do norte para o vale do Zambeze, onde se fixaram. MARQUES (1960:13).
De uma maneira geral não são bons agricultores, mais são bons na pesca e na caça o que fazem com prazer e entusiamos, também nos artífices, com verdadeiro talento madeira-torneiros e os metais preciosos-ouriveis. E pacifico sendo pouco dando a crime de morte violenta. Intuição do comercio pelo desloca através do canais interior dos rios (MARQUES 1960:14)

A Tradição do Povo Sena

1. O Nascimento: Mabzuade


Segundo MEQUE (1999,p,22) “disse que tradicionalmente, quando uma criança nasce a mulher (akhapita madzuade). Antes de fazer esta cerimónia, ela era considerada mukho (tabu). A cerimónia consistia na lavagem de corpo dela num recipiente de barro. Depois de lavar-se, a pote com água suja era deitada num lugar especificado tornando-se mukho também”.
     
Segundo MARQUES (1960,p,15), “a água suja é metida numa panela que assegura enterram perto duma árvore a qual ficava denominada madzuade”.
Portanto, podemos considerar que existe uma divergência na denominação do local em que se enterra a sujidade proveniente da mulher.
Nesta cerimónia a mulher não podia receber outras visitas que não sejam as da mulher que já tenha concebido, o mesmo sucedendo o pai da criança. As mulheres senas para facilitar crescimento do pénis das crianças costumam fazer lhes massagens apos banho com um suco leitoso duma planta a quem dão nome de “delela” (MERQUES, 1960,pp,16)
Se esta cerimónia não era praticada, a criança podia ter anemia, ou, ate podia estar enxada. O marido também era obrigado de cumprir certas regras cuidadosamente. Durante este tempo depois do cumprimento da cerimónia, o povo acredita que a mulher já está limpa. MEQUE (1999,p,23).

2. Thati: 40 dias Depois de Nascimento
     
Esta cerimónia se faz quando um bebé é tirado de casa pela primeira vez mais ou menos depois de nascimento, chamado thati. Suas mulheres dançam para ensinar anova Mãe para ensinar como cuidar do bebé.

3. Ritos de Iniciação de Raparigas e Rapazes
     
Quando uma menina atingir 14 anos, as jovens da mesma idade (já iniciada) dançam (maseseto) para ensinar a nova mulher. Os homens não estão admitidos para assistir a esta dança é para apenas mulher que tiram roupa para dança-la. Durante a tal dança batem palmas e usam os “makhacha”. A festa pode acabar uma semana ou mais dias, dependendo das condicoes económicas, ou comida disponível. Estas danças sevem de aulas iniciação e formação duma pessoa ou mulher bem-educada segundo (MEQUES 1999, pp, 23).

As mulheres senas quando chegam à puberdade tatuam a parte superior das costas e baixo-ventre, parte superior do tronco, membros superiores e face, com o simples adornos, com cascas de manga, untura de cerva ou plantas queimadas. Usam ainda cintos de missangas com varias cores e enfeites com fins de estímulos eróticos os quais cai sobre baixo-ventre. MARQUES (1960, p, 17).
Às raparigas é reconhecida a sua capacidade procriadora no início das primeiras menstruações.
     
A iniciação dos meninos faz-se numa maneira diferente de região para região, mas em Zambézia leva 2 ou 3 meses. Durante este tempo os meninos ficam no mato, ficam circuncidados, e aprendem como preparar um corpo morto, e tomar contas. Durante este período, não podem ficar em casa, mas “roubam’’ comida da casa a noite, esta cerimónia já não é muito praticada. MEQUES (1999, p23).

4. O Casamento: Macungudzo

 O casamento tradicional do povo sena realiza-se da seguinte maneira:
  • Chegado o tempo de escolher mulher para casar, o “ sena”, dirige-se a um amigo, o vulgo “ Nhacuvunzira” e encarrega-o de procurar a rapariga escolhida e de a informar sobre as suas pretensões. A escolha recai numa rapariga que seja da sua raça mas de família diferente Mututo. Estes factos são ainda reminiscências do totemismo e a escolha endoganismo.

Iniciando os primeiros passos, o noivo trata de arranjar o “m¢pepe ”- dinheiro para entregar os pais da noiva como prova dos seus intentos. Os pais da noiva fazem o mesmo, os de noivo.
Feito isso, o noivo arranja uma galinha que mata e vai entregar a mulher que escolheu para madrinha,- para que dela faça presente aos futuros sogros e que significa pedir serviço -mulenga Tana” que consiste o noivo antes de casar, servir os sogros por alguns anos. Em continuação das negociações arranja-se “saguate”- dativa mais substancial e valiosa o <<M¢Tonilo>>- o dinheiro ou gado com significado de pedir a noiva em casamento.
     
No sul do vale de Zambeze predomina o”levatia” - o noivo constrói a sua própria palhota com ajuda dos parentes, situado deste modo próximo da casa dos futuros sogros.
Algum tempo depois findo acto sexual o marido sai da palhota, a tia e outra mulheres vão verifica se consumou o acto e a noiva estava ou não virgem. Apoderam-se do despojo e saem da palhota em algazarra, mostrando o pano que ela era pura.
No dia seguinte, os noivos vão banhar-se devendo a madrinha dar banho o noivo e padrinho à noiva ou vice- versa. Esta cerimónia chama-se kussambiça. Do momento que engravidarem não deixa a mulher de manter relações sexuais que só já em estado avançado da gravidez o deixa de fazer. MARQUES (1960, pp, 17).

5. Lei do Auto Conjugal: Mwambo Wa Kupitiswa
     
Geralmente na família sena, a sogra é quem dá as ordens às noras naquela casa. Quando uma nora chega a casa ela pode cozinhar, mas não dividir a comida. As mulheres é que escolhem as partes melhores duma galinha para servir aos homens: a perna, as moelas, o pescoço, o peito, o rabo, o fígado. Ficam para mulheres somente as costelas, pés, asas e cabeça.
     Para servir nsomba (um peixe preto com barbas), ele divide-se em 4 partes: a cabeça vai na mesa dos homens, a barriga às mulheres, a primeira parte atrás da barriga aos homens, e a segunda às mulheres. Depois de jantar, os membros da família falam sobres os acontecimentos do dia, trocam anedotas, e contam estórias que ensinam as crianças. Estes contos chamam-se Pithakhano.

6. Cerimónia de Ensinar Novo Casal (Manyalala)

Dentre as cerimónias de ensinar o novo casal destacam-se:
  • Nyongolo e Maviniro a Nkwangwa: uma dança em que a noiva é ensinada para animara o marido, isto é agradecer ao marido pelas ofertas de roupas que vai comprar para ela durante a vida caseira;
  • Kuphata Nfuta: acção de ungir com óleo, a mulher senta-se na cadeira especial denominada “m¢phando” em que esfrega no corpo em quanto o marido observa. É um tipo de teatro para animar o marido;
  • Kupaswa Mafuwa: fazem esta cerimónia para dar instrução à noiva sobre a cozinha. É cerimónia de entregar à noiva as pedra para cozinhar (Kupaswa mafuwa).

7. A Gravidez: Makhurudzu
     
Quando uma mulher casada fica gravida três meses, ela faz uma dança para mostrar que ela chegou no outro nível da vida. A partir daí ela pode tirar o seio fora do vestidol (que é proibida até aquela altura). Na dança só participam as mulheres idosas e a principal jovem. Um partir desta dança é a verificação na parte da sogra que a nora é realmente gravida. Se a nora mentiu ela está sujeita a morte.

8. Morte: Kufa

Se alguém morrer, tem que se praticar a cerimónia de Kufa. Quando não se pratica, outras pessoas também podem morrer. Para cumprir a cerimónia, matam uma galinha (ou mais) que representa a pessoa morta. Todos comem juntos, guardam os ossos, e quando outros veem de longe mais tarde, estes pegam os ossos, parra mostrar comunhão com a família, e a que veem de longe tem que tomar tabaco juntos ou fumar do mesmo cigarro isto ocorre depois de muito tempo.
     
Até esta completa a cerimónia da galinha, ninguém pode ter qualquer contacto sexual, e se alguém não cumprir esta regra tem que ir ao dono da Kufa[4], e confessar, “não consegui cumprir a vossa Kufa” se não, vai tossir sangue e morrer. Antes do enterro, uma dança de tristeza (chamada use) é dançada usando um só batuque (uma lata). Depois de enterro, dança-se cedo, usando 9 batuques de várias altura.

9. Nomes de Seres Espirituais

  • Nomes de Deuses: deus verdadeiro (mulungu) e o criador de tudo (kulenga). O povo sena adoram mulungu, que e o nzimu (antepassado) de um grande homem. Os primeiros missionários aceitaram mulungu parra o nome de deus.
  • Muya: o termo significa “vento” ou “ar” mas foi introduzido por mansionários para espirito de deus (muya wa mulungu ou muya wa mulungu). Assim acreditam que o ser humano tem três partes: corpo (manungo), alma (ntimaque significa “coração”) e o espirito (muya).
  • Minzimu: são os espíritos dos antepassados mortos e considerado por povo sena como muito santos. As pessoas convidam os mizimus para viver com eles, dão lhes comida e comunicam com eles. Os mizimus protegem as pessoas vivas e servem como mediador entre deus criador.
10. Nomes de Demónios
  1. Madzoka: demónios ou pessoas endemoninhadas. É o poder utilizada por curandeiros. Cristo expulsou Madzoka na bíblia são os demónios que veem a uma pessoa que dizem que são mizimus assim a pessoa torna-se curandeiro.
  2. Cikwambo: Demónio forte, como Cikwangwali.
  3. Cikwangwali: são demónios muito terríveis cheios de maldades. O povo tem muito medo deles que possuem pessoas sem serem convidados, e são muito poderosos.

Ninguém convidada este espirito para viver com eles. Os anyansolos (profeta tradicional) têm dificuldades em expulsar estes demónios das pessoas. Uma maneira em meter a pessoas endemoninhada numa cabana e ascender a casinha com fogo. A pessoa é retirada no último momento da cabana a arder assim pode ficar de Cikwangwali.
  1. Nzunzu: o Cikwangwali do rio ou mar, um tipo territorial que vive na água, MEQUES (1999,pp, 4 à 7)

11.  Médicos Tradicionais (Maganga) do Povo Sena
       
  • Ng¢anga Wa Kunziwa Mitombwe: este é o primeiro, que cura somente com ervas e raízes naturais, “ curandeiro que só conhece medicamentos, e não tem nada ver com demónio.
  • Nyansolo: o nome refere-se “ aquele que tem que sonhar”, para curar identificar a origem duma ou da morte de alguém usa o poder do diabo (os Madzoka), e tem que ficar possuído por um espirito para fazer o teu trabalho.
  • Nyankhundo: especialista na descoberta de feiticeiros este é muito temido pelo mfiti “feiticeiro”, porque sempres consegue descobri-lo. Toca o batuque, depois sobe no telhado da casa já endemoninhado assim começa falar sozinho e persegue até apanhar. Bate o feiticeiro com a cauda dum animal o caso é levado ao régulo ou mambo para ser julgado. Muitas vezes o feiticeiro é morto segundo MEQUES (1999, pp, 14 à 15)

Capítulo: II Língua Cinyungwe (Nyungwe)
     
Cinyungwe, ou Nyungwe, é uma das línguas bantas faladas por mais que 400 mil pessoas em Moçambique, principalmente na margem sul do rio Zambeze, vulgo vale de Zambeze, na província de Tete, desde a fronteira com a Zâmbia até Doa no distrito de Mutarara.

História Cinyungwe
     
"Nyungwe" como nome próprio refere a cidade de Tete, na província de Tete, Moçambique. Assim, a língua Cinyungwe é a língua falada em Tete. E o grupo étnico chama-se "Manyungwe"
Segundo David Livingstone chegou pela primeira vez em Tete em 1856. No capítulo 31 do seu livro "Missionary Travels and Researches in South Africa," ele menciona muitos nomes de pessoas, localidades, plantas medicinais na língua local.
Em tempos modernos, os elementos da Língua Nyungwe de Manuel dos Anjos Martins há sido de grande importância. Publicado em 1991, o dicionário/gramática é a fonte mais extensiva de vocabulário que existe. Em 1997, a Sociedade Internacional de Linguística Moçambique (SILM), iniciou vários projectos de desenvolvimento da língua Cinyungwe, inclusive livros de alfabetização, e compilações de contos tradicionais.
Algumas tradições cultural-identitárias dos povos Nyungwe
     
Casamento Nyungwe
   
É importante perceber, por outro lado, que as normas que constituem a moral duma sociedade ou comunidades não são estanques e fixas. Elas sofrem alteridade, são mutáveis. A alteridade se deve à empréstimos entre culturas diferentes, através do difusionismo [contactos] cultural. Tal alteridade depende outrossim dos contextos ideológicos e económicos que adjectivam uma determinada época- é o que Marx chamou, incessantemente, de tom da época. Nyatsimba Mutota, segundo a lenda, teve que desbravar um campo de cultivo muito extenso (usando a enxada). Primeiro derrubou a mata. E construiu, como rezava a moral, uma casa nas propriedades dos sogros. Mas como a demonstração de sua força foi tão maior, sua fama de homem trabalhador superou as expectativas e ganhou mais esposas tiradas daquele grupo de parentesco. Mas de lá para cá as regras foram sofrendo alteridade e as morais também.
     
A socialização do rapaz na comunidade nyúnguè tem em conta aquilo que torna o homem valente e a construção de uma casa (gowero) conta-se como vital.
A Socialização dos Futuros Noivos na Comunidade Nyungwe
Segundo Moore socialização é o processo pelo qual os novos membros aprendem a enquadrar-se na sociedade e absorvem as regras e a cultura da mesma. Este processo envolve aprender e aceitar os padrões de conduta que estão ligados a determinados papéis que se esperam na sociedade, e que são necessários para que essa sociedades e produza ao longo dos tempos. (MOORE, 2002).
Entre os Nyungwe, ainda numa tenra idade os pais escolhem padrinhos para [socialização] seus filhos. Geralmente os padrinhos são pessoas que não partem da família. O padrinho ou madrinha recebem a designação de nshankulu. Para o rapaz tem de ser um homem e para a menina uma mulher. Os padrinhos é que deverão acompanhar o desenvolvimento dos seus afilhados.

Ritos de Iniciação

Na cultura Nyungwe não existem ritos de iniciação para os rapazes, mas apenas para as raparigas. É durante os ensinamentos rituais que a menina aprende a cuidar do marido, práticas de cuidados com a menstruação e parto.
É durante os ritos de iniciação que a rapariga aprende a puxar os lábios vaginais (matingi) para permitir o seu elastecimento. A função dos matingi é de aumentar o estímulo no homem durante o acto sexual. Uma vagina desprovida desses requisitos pode ser considerada estranha pelo homem [Nyungwe].

Por vezes as raparigas fazem pequenas tatuagens em redor da cintura para originar rugas ou pequenas ondas ao longo da anca. Essas tatuagens também servem de estímulo para o homem. Na cara, como tatuagem, desenhavam uma folha de qualquer planta de estima para aumentar a beleza. Saiba-se que a madrinha da rapariga joga um papel primordial na socialização da futura esposa.

Já Não Constitui Prática Corrente
Algumas práticas como a de tatuar a cara tendem a desaparecer [velozmente]. Não só nas zonas urbanas do sul da província de Tete, área habitacional dos Nyungwe, mas também nas zonas rurais.     No concernente à educação do rapaz, pode se afirmar que é diametralmente oposta. A diferença não reside apenas no facto de serem pessoas de sexo oposto mas no modo de socialização. Por não serem submetidos à ritos de iniciação, a sua educação é garantida pelo padrinho e pelo pai. É dos pais que o rapaz deve aprender a derrubar a mata, desbravar a terra, construir uma casa, ir `a caça, pastar o gado (que é abundante nesta região de Tete) e, assim, a se tornar no homem do amanha:

O Noivo: A construção da casa, o derrube da mata e o desbravamento da terra são saberes importantes para se afirmar como homem socialmente válido-para conseguir ser acreditado pela moça e mormente pelos futuros sogros (wamabwala).

O Namoro (Kudziuana)
     
Entre os Nyungwe, geralmente, o rapaz e a rapariga têm sido jovens da mesma comunidade ou região residencial embora não haja impedimento quanto `a união de pessoas de grupos de parentesco distanciados ou de realidade socio-cultural diferente. Depois dos jovens se apreciarem (geralmente porque costuma se ver no dia-a-dia e nas maltas de brincadeiras) se conquistam (kunyengana). Geralmente a iniciativa de se aproximar ao outro para manifestar intenção de namoro tem sido do rapaz. As vezes com anuência do Nshankulu/padrinho. Sobre o conhecimento mútuo, que conduz ao casamento, segundo ORGILA citado pelo Geraldo Cebola João Lucas defende o seguinte:
     
“Não há dúvida de que havia e há mais possibilidades de se estabelecer uma corrente sentimental entre aqueles que se conhecem antes de se amarem do que de se estabelecer um profundo conhecimento entre aqueles que se amam. O autor diz que o noivado, e não o casamento, é o banco de ensaio do amor entre duas pessoas.” (ORGILA, 1970, p.292-3).
     
Caso a rapariga aceite a proposta do rapaz, de imediato ela vai segredar à madrinha e não à mãe ou ao pai. A madrinha é que transportará a novidade e as características precisas do rapaz para o conhecimento dos pais da rapariga. Com a anuência dos pais a madrinha informa a rapariga que o rapaz será recebido pelos pais.

O Casamento (Kulouola) Nyungwe

O casamento é uma instituição social que visa estabelecer vínculos de união estáveis entre o homem e a mulher baseados no reconhecimento do direito de prestações recíprocas de comunhão de vida e de interesses, segundo as normas das respectivas sociedades. Não se trata de um tipo de partilha qualquer, deixado ao livre arbítrio e inclinações dos intervenientes, mas de uma comunhão de interesses mútuos. (MARTÍNEZ, 2009, p. 121).  
      
A multiplicidade de formas que encontramos nas sociedades ultrapassa, neste caso, universal cultural e as generalizações, pelo que é impossível considerar uma única forma de casamento de valor universal. Entre as variadíssimas formas e normas existentes, permanece sempre o facto da comunhão, socialmente conhecida e regulada. (Idem).
     
“A norma do casamento nas diferentes sociedades contempla as questões que podem aparecer durante a vida matrimonial, isto é, a infidelidade do homem ou da mulher, através do adultério, a ruptura do vínculo, provocando o divórcio, As causas do divórcio variam de sociedade para sociedade. Podem ser: as esterilidades de um dos cônjuges, a impotência sexual, a incompatibilidade de caracteres, as desgraças domésticas, as doenças, os maus tratos, a violação, o concubinato, entre outras.” (MARTÍNEZ, 2009, p. 122).
     
As negociações encetadas pela madrinha da rapariga junto dos pais desta conduzem à eleição duma data para o casamento. A madrinha depois de segredar à rapariga sobre a data ou período da cerimónia convida os padrinhos do rapaz para informá-los e se acertar as formalidades.
     
Condições de Casamento Nyungwe
     
Há condicionalismos a serem observados. Para demonstrar que de facto o rapaz é homem se exige que construa uma casinha no quintal da família da esposa. Atenção que esta construção não tem relação com sistema matrilinear de casamento porque não visa a transferência definitiva do jovem para habitar no quintal dos sogros. Para além de que os filhos não ficam sob tutela dos tios maternos, como reza o sistema matrilinear do norte do Zambeze. A pequena casa construída pelo rapaz recebe a designação de gowero. A exigência da construção do gowero visa provar que de facto o rapaz foi instruído socialmente para enfrentar a vida adulta. Visto que casa é uma das necessidades fulcrais para a edificação duma família. Daí que o padrinho do rapaz, assim como seus pais devem estar certos de que seu filho/afilhado não está preparado para contrair matrimónio caso revele incompetência no concernente a esta matéria. Em segundo lugar, a casa a ser edificada pelo rapaz antes da cerimónia serve também para a primeira noite nupcial e servirá sempre que for de visita de quarto de descanso ou dormida.
     
Como pode se depreender, a construção do gowero é deveras importante, serve de uma das principais provas para os pais e padrinhos de que a filha não estará a se casar com um preguiçoso. Porque para a construção do gowero o rapaz precisa estacas apropriadas, capim, cordas e outros elementos que são explorados da natureza. Como esclarece Inácio Máquina:
     
“…O rapaz deve ser capaz de exibir foça e habilidade no processo da construção por uma questão de credibilidade aos olhos dos sogros e sobretudo da madrinha (n`shankulu wa cikazi). Assim, o corte de estacas (n`sici), paus maleáveis para ligar a estrutura da casa (mbaliro), cordas (nzoi), capim (uswa ou mauswa) para cobertura constitui um trabalho árduo, daí que a consecução do gowero seja fundamental.” (MÁQUINA, 2010 cp).
     
Outra actividade exigida antes de se realizar o casamento é o desbravamento duma porção de mata para se transformar em campo de cultivo (machamba). Depois de derrubar e secar a porção florestal deve queimar (kutentha/lupswa).
     
E por fim desbravar a terra para a sementeira. Esta prova visa não só exibir força, mas também demonstrar que a noiva não irá sofrer de fome quando estiver no lar porque o marido sabe trabalhar a mata para cultivar/produzir. Grande parte da colheita (primeira daquela machamba) será levada pelos dois (noivo e noiva) para o seu lar e os pais ficarão tranquilos por ter certeza de que a filha levou mantimento para o novo lar.
     
A importância da enxada repousa neste contexto produtivo e não apenas na sua apresentação como um objecto. E é este valor simbólico do trabalho ligado `a enxada (phaza) que é transferido para a união ou o selo do casamento com os brincos. Os brincos (mphete) por ser pertença feminina unida à enxada (phaza) perfazem a união e ou selam o casamento. Resulta disso o ditame phaza na mphete (enxada e brinco). A união desses dois objectos é que fortifica a relação.
     
No dia do casamento a comitiva do noivo (padrinhos, pais, e outros familiares ou amigos eleitos) se faz `a casa da noiva. Deve levar consigo dinheiro para o selo do casamento que geralmente deve ser uma nota qualquer, esse dinheiro é o chamado phaza na mphete.
     
Lobolo (Kuthamula N`Sana)
     
Entenda-se que o noivo e sua comitiva não entregam os objectos materiais (enxada real e brincos reais), mas sim uma nota em dinheiro que simboliza os objectos referidos. Para que a família do noivo, na voz do padrinho, comece a falar é preciso dinheiro (cobiri), pede-se um prato à família da esposa e deposita-se algum dinheiro e se começa a falar. Outro dinheiro serve para kuthamula n`sana (endireitar a coluna do pai). A coluna deve ser esticada porque, de algum modo, sofreu no acto do coito com a mãe da noiva. Para além de que se pensa que a efectivação do feto depende do depósito de espermatozóides de forma sistemática e contínua.
Na cerimónia a primeira a falar antes todos os presentes é a madrinha da rapariga. Ela é que introduz a razão do dia e o colectivo que acompanha o noivo a apresentação próprio noivo é feita pela madrinha aos pais da noiva.
     
Depois disso, o padrinho do rapaz pede um prato e a família do noivo deposita um valor em dinheiro no prato como forma de pedir permissão para falar. Depois do padrinho do rapaz introduzir a sua comitiva devolve a palavra à madrinha da rapariga que por sua vez, em comunhão com os pais anuncia o valor a pagar pelo acto de kuthamula n`sana (lobolo em cichangana) ou anelamento. O dinheiro é, geralmente, estipulado em número de cabeças de gado. No geral tem dito uma cabeça ou uma cabeça e seu vitelo (`gombe na mwanace ou n`gombe ikulu na i`gono iace.). Antigamente uma cabeça equivalia a dizer 100,00Mt (mbondo) e uma cabeça e seu vitelo equivalia a 100,00Mt e 50, 00Mt (n`gombe na mwanace); isto no período pós-independência, mas actualmente a moeda está inflacionada e os preços de gado sofreram alteração. O preço mínimo duma cabeça de vaca se situa nos 1500,00Mt e um vitelo está a 800,00Mt. Assim n`gombe ibodzi (uma cabeça) equivale a dizer que o acto de kuthamula n`sana custa 1000,00Mt. No caso de discordância, a família do noivo volta a depositar dinheiro no prato como forma de pedir palavra. Assim os acompanhantes do noivo e este pedem para se isolar por instantes para concertos. Depois disso volta ao local da concentração e pede a redução do valor ou pede para que o pagamento seja feito de forma faseada.
     
É preciso entender que a forma inicial do kuthamula n`sana não consistia no pagamento em dinheiro, mas sim em verdadeiras cabeças de gado e na época era, quase, fácil dado que no geral os Nyungwe eram criadores de gado.
Mas a ligação da região do Estado dos Monomotapas com o comércio internacional, primeiro com os árabes e depois portugueses maioritariamente, bem ao comércio com os missionários transformou a economia de Tete, em economia monetarizada e proporcionou a estipulação dos pagamentos em dinheiro.
Depois se tira um valor em dinheiro para selar a união-phaza na mphete. Caso a união não seja selada e os pagamentos não foram completados o noivo não terá autoridade, futuramente sobre os filhos e por qualquer motivo a esposa pode ir para a casa dos pais.
O phaza na mphete, que mais tarde passará a ser designado (familiarmente) apenas por mphete (por questão de simplificação do termo) serve não apenas para selar o casamento, mas também para dissolve-lo. No caso de divórcio, o valor de phaza na mphete é devolvido à família do noivo ou a ele mesmo. O acto da devolução simboliza o apagar da relação ou supressão de compromisso.

Cerimónia Nupcial
     
Segundo Martínez (op. cit.), a cerimónia nupcial que manifesta socialmente a decisão dos contraentes, se pode reduzir a um simples acto jurídico, ou a um processo ritual mais complexo, rico em cerimónias e símbolos, composto por viárias fases com períodos de tempos mais ou menos prolongados. O casamento tem também uma dimensão comunitária, que requer além da presença das respectivas das famílias cônjuges, a participação dos membros da comunidade, ou ao menos, os seus representantes mais significativos. Nunca se trata de um assunto privado. Também o carácter festivo forma parte da celebração do casamento em todas as culturas. Este carácter se manifesta através da apresentação dos próprios contraentes, do vestuário dos participantes, do tempo decidido à celebração, do banquete com comida e bebida com qualidade e abundante, na ornamentação do ambiente exterior e na solenidade do ritmo. (MARTÍNEZ, 2009, p.122).
     
Entre os Nyungwe também se verifica festa no casamento. Geralmente a família do noivo prepara e leva consigo bebidas para acompanhar a refeição do dia. O que se bebe no geral é m`buadua (pombe) -uma bebida tradicional fermentada com base no milho ou mapira e maxoeira. Actualmente tem sido costume o noivo levar garrafão de vinho para servir de suporte o que foi preparado.
     
O gowero serve, também, para a demonstração da virgindade da rapariga e da potência sexual do rapaz. A reprovação da rapariga nesse teste (de virgindade) pode levar o rapaz a renunciar a intenção de formar um lar com a rapariga ou então à redução do valor do kuthamula n`sana. Dzico Viagem explica o seguinte:
     
“…Na primeira noite, naquele gowero que o genro (nkuasa) construiu é praticado o primeiro encontro sexual entre os futuros cônjuges. À rapariga é oferecido um lencinho (pano branco) para levar consigo à palhota (gowero). O rapaz ao introduzir o pénis deve encontrar pequenas barreiras que sejam sinais de virgindade e a prova máxima disso deverá ser o sangue que a noiva vai perder por perder a virgindade.
     
Por outro lado a noiva é instruída a colher parte dos espermatozóides e dobrar o pano. No dia seguinte o pano deve estar bem apegado ou por outra palavra, colado pela força colante dos espermatozóides, caso contrário será prova segura de que o rapaz é estéril. E a possibilidade de casamento pode ser anulada ainda cedo. Se o lencinho colar seguramente será prova de que o homem é reprodutor…” (VIAGEM, 2010 cp).
     
E se na primeira noite, do gowero, o rapaz não conseguir estar excitado ou ter dificuldades de introduzir o pénis na vagina. A moça poderá reportar a situação à madrinha e se concluir que o noivo é impotente. Assim, se o rapaz não consegue introduzir o pénis não reúne condições para ocupar a afilhada. É preciso entender que toda informação passa pela madrinha em primeiro lugar.

O Impacto da Globalização Sobre o Casamento Nyungwe
     
A necessidade da aprovação social do casamento continua a constituir uma realidade entre os nyúnguè. No entanto, há opções diversificadas em termos rituais por causa da multiplicação de seitas religiosas e hibridade populacional. No entanto, por mais que vá ao registo ou igreja, a parte tradicional do casamento ainda se conserva como prática indispensável embora com algumas concessões ou modificações. De qualquer das formas os noivos devem aparecer em público para que o casamento seja aprovado e legitimado.
     
Na maioria das comunidades os rapazes e as raparigas (Manyungwe) não casadas não estão livres de acasalar-se em uniões temporárias, sujeitos a barreiras do incesto, da exogamia e regulações sociais como triunfo nas suas comunidades. Mas existem tribos que consideram a castidade dos não-casados como uma virtude, especialmente nas raparigas e um lapso é severamente censurado ou punido. Entre os Nyungwe a castidade feminina era regra exigida. A primeira noite nupcial no gowero servia para provar se a rapariga era virgem. A rapariga deveria perder sangue no acto sexual como sinal de perda de virgindade. No caso de não se provar virgindade da rapariga, a relação terminava, os outros rituais não eram observados por causa da impureza da mulher. Por outro lado, no caso dos espermatozóides não fizerem colar o lencinho que a rapariga levava para a relação com o fim de captar parte dos espermatozóides se concluía que o rapaz era estéril e a noiva poderia abdicar-se de casar com o jovem. Mas estas práticas foram abandonadas por causa de estigma que as conotam e pela falta de comprovação científica das técnicas que eram usadas. Para que a rapariga case (já) não é preciso que seja casta ou por outra, virgem. E o que pode provar que o rapaz é estéril são consultas médicas em hospitais.
     
Malinowski (1967:32) argumenta que o rito do casamento é como uma regra e também como um acto ritual com um significado simbólico, e como tal o rito é geralmente concebido) para possuir uma eficácia mágica; ele contém um preceito moral ou expressão de um princípio legal.
     
Uma das formas de obter esposa e o direito aos filhos dela é trabalhar para eles (os sogros). Hoebel e Frost (1995: 195) referem que Jacó trabalhou sete anos para ganhar a mão de Raquel, mais sete anos para ganhar a mão de Lia. A história do Centro de Moçambique evoca a lenda de Mwenemutapa que trabalhou no desbravamento de grande machamba para casar uma mulher local: da região situada entre os rios Luia e Mazoe. Pode-se depreender que na cultura nyúnguè a descendência se baseia na linha parental do noivo (pai).
     
O kuthamula n`sana (lobolo em cichangana) ou valor de anelamento pago à família da noiva é a progênie para a cultura Nyungwe. Como se afirmou, o dinheiro (progênie) é, geralmente, estipulado em número de cabeças de gado. No geral tem sido uma cabeça ou uma cabeça e seu vitelo (n`gombe na mwanace ou n`gombe ikulu na i`gono iace.). No entanto em nossos dias a progênie é estipulada em valores monetários e nada quase em gado. Mesmo em regiões que produtores excelentes de gado como sul do distrito de Changara (Marara e outros Postos Administrativos) o preço da progênie é estipulado em dinheiro. É preciso sublinhar que, neste caso, o efeito da globalização não elimina a prática ritual. Mas os objectos utilizados para o ritual mudam, no entanto o seu valor simbólico não muda nem desaparece. Deste modo se prova que a cultura se apropriou das novas formas mas não do conteúdo. O que se regista não é crise de identidade, mas um reajuste ao tom da época, reconhecimento do novo contexto: uma espécie de resposta `a realidade global para que não seja marginalizada. Por outro lado, a força do tribunal e das igrejas na interferência sobre assuntos do casamento não anulam as práticas rituais do património identitário.

A Tradição “Formal” (Divorcio)

 A constatação de Malinowski sobre o divórcio e seu significado na comunidade é importante:
“A regra geral é de que o divórcio é possível mas não é fácil e provoca danos e desabilidades a ambos os cônjuges. Mesmo onde o divórcio é facilitado para o marido ou esposa, se regista o pagamento de um considerado preço que deve ser pago pelo divórcio ou pela liberdade para divorciar e isto é fácil apenas para os que são sucedidos economicamente. E, geralmente, o divórcio envolve a perda de prestígio e estigma moral.” (MALINOWSKI, 1967:25).
     
Entre os Nyungwe acontecia o mesmo. A cultura patrilinear Nyungwe era tão machista ao ponto de manter na clandestinidade a esterilidade do homem. Está na razão disto, a concepção de que o homem que é estéril não difere de mulher é desprezado pela própria esposa e pela comunidade. A notícia de que esta ou tal mulher é estéril era difundida pelos grupos de homens para que nenhum homem a pretendesse por engano, dado que ele mesmo cairia no lenço da vergonha. Mas não constitui vergonha divorciar. E a esterilidade[5] já não é tão estigmatizada[6] culturalmente. Neste trabalho defende-se que o que é bom e proveniente da globalização[7] é acatado. Pensa-se que o combate a estigmatização pela esterilidade é um ganho para a cultura local. O homem estéril (Ngomwa) já não é estigmatizado com a mesma violência marginalizadora de antes. As notícias de aluguer de barriga; o recurso de outras técnicas que a medicina oferece para que um casal possa ter filhos; a normalidade com que se encara adopção de filhos não-biológicos são factores que contribuem para a redução profunda de preconceitos confinantes a defeitos genéticos ou biológicos.

Capítulo: II EChuwabo (Cuabo)
     
EChuwabo é uma língua falada na região à volta da cidade de Quelimane, na província central da Zambézia, em Moçambique. É uma língua bantu, da grande família Níger-Congo e do grupo das línguas Emakhuwa.
     
Historia chuabo
     
Os Chuabos
     
O nome Chuabo é de origem Loló e designa o povo do litoral zambeziano entre Pebane e a foz do grande rio. O fundo populacional da região é de estrato lomwé e a mitologia local considera os Chuabos oriundo do monte limeme em Tacuane. A maioria dos autores que escreveram sobre este povo, dizem nos originários dos Maráveis, por conseguintes aos Nyanjas e aos Chewas de Tete e de Niassa. Mas, mais correcta parece ser a tese que considera os Chuabos uma etnia mais recente resultante da miscigenação dos povos que percorreram o vale de Zambeze devido as guerras e ao comércio.
Se entendermos os restantes da população da Província da Zambézia, o fundo populacional conhecia uma filiação matrilinear. É através do estudo da economia política do país. Chuabo que das terras compreenderemos as transformações actual do sistema patrilinear.
     
Todo chuabo se considera descendente de um antepassado remoto, todos indivíduos com este antepassado formavam antigamente um clã e consideravam parentes. Segundo a velha tradição lomwe, o clã tinha por formadura uma matriarca: a descendência fazia-se por uma via uterinal, por isso o clã era matrilinear, os membros do mesmo clã não podia casas entre si.
     
Modernamente os clãs deixaram de ter a sua importância de outrora e regista-se uma forte tendência paternal com a constituição das matrilinear “anamudhi”.
      
A pessoa mais importante da antiga família matrilinear eram irmão mais velho da mãe, mas hoje é o tube ou seja, o avo paterno chefe da mudila (famílias alargadas patrilineares)
     
No passado os jovens tinham grande respeito pelo tio, o procuravam mais vezes a sua casa do que a casa da mãe. Era o tio paterno que detinha nas suas mãos, as rédeas do governo e quem resolvia todas as questões familiares. As relações de parentesco entre o tio e sobrinho e reciprocamente atentam hoje antiga instituição do avunalato, apesar da patrilinearidade se instituir cada vez mais, obrigando-o a largar consultas das contra partes na busca de solução para os litígios que envolvem os sobrinhos e outros parentes.
     
Antigamente não existia propriamente uma compensação matrimoniar mais só oferendas feitas pelo noivo à família da noiva. Mais pouco a pouco com a restruturação da família alargada chuabo, em situação colonial, a própria virgindade da rapariga passou a ser apreciada. Por causa da compensação matrilinear, chamada péthe (lobolo), a viúva devia casar prioritariamente com um varão da família uterinal do marido. Em causa de recusa tinha que devolver o péthe. E quando uma mulher se divorciava, deixava com o ex-marido os filhos mais velhos.

Ritos de iniciação -circuncisão e o tempo no namuhakwani

Segundo Valente de Matos, “cerimónia decorre da seguinte maneira: os iniciandos acompanhados dos padrinhos vão sentar-se em linha próximo da barraca do circuncidador, todos voltados para a mesma banda. Ensinar de respeito para com o mestre operador, mantem se de cabeça baixa. (…) Logo que os rapazes se sentaram no chão na ordem prevista o circuncidador surge a porta da sua palhota empunhando o rabo dos medicamentos Mila, e avança em direcção aos rapazes pondo o rabo estendido sobre cada uma das cabeças. É no momento quando o mestre da circuncisão coloca o rabo do boi-cavalo na Cabeça de cada iniciandos e a deixa ficar em equilíbrio, que cada uma faz entrega duma moeda em valor consoante a idade de rapaz. Em tempos mais remotos pagavam-se com galinha, enxadas, cordoes de missanga e muito mais.
     
A imposição de rabo anda ligada a crença de que se mantiver em equilíbrio o rapaz há-de ter filhos, se ao contrário o rabo cair ao chão é o indício de que o circuncindado não terá filhos, por simples esterilidade ou fítico.
     
Terminada esta cerimónia, o velho circuncidador retira-se e, depois de se munir de todos os apetrechos necessário a operação da circuncisão:
  • Um cesto (mavuku) com varias facas (myàlo) e um corno de antílope cheio de medicamentos em pó (estutha) para provocar a fecundidade, vai se instalar no local de circuncisão.
  • Os adultos dizem aos rapazes que vão encontrar nesse local uma grande colmeia, mas que não deverão ter medo pois isso significara uma grande falta de coragem.
  • Todavia os jovens vivem em momentos de trágica ansiedade, por quanto ignoram tudo quanto esta para lhes acontecer.

Os iniciandos dispõem-se em fila, ficando a frente os filhos dos escravos, se os houver e, depois os filhos dos homens livres, noutros lados e em épocas mas recentes, o primeiro da fileira era um filho de chefe ou pessoa importante, e essa posição era considerada um privilégio.
Os padrinhos tapam-lhes os olhos e, quando chegam próximo do circuncidador, os ajudantes arrancam-lhes violentamente as trangas (ikara) e arruam-nas para o lado ao mesmo tempo que, agarrando os jovens pelas pernas os deitam de costas, muito justamente os ajudantes são chamados os milhafres (ashaka) num epiceno velho circuncidador toma o pénis do moco distende-lhe o prepúcio (ntusu) e corta-o de um só golpe. O rapaz só tem tempo de lançar um grande grito de dor, pois que e retirando imediatamente pelo padrinho e levando para um lugar, não muito distante, onde todos vão se ajudar.

Mas para nascente, em Ribaué por volta dos anos 50 o circuncidador procedia ao corte com um objecto de ferro, afiando numa das extremidades chamado nejembo.puxava a pele que cobria a grande e extraia dela um anel da extremidade. O mestre da circuncisão estava mascarado para não ser reconhecido pelos rapazes, essa mascara que usava chama-se otambo apos cada corte, o circuncidador aplicava na ferida um remedio chamado mutupulo obtido da casca de árvore Manágua, um outro, designado pelo termo wachila-wacueque, o significado e wachila (moer) designa a operação feita pelas mulheres quando estão a moer a mapira nas pedras que usavam para o efeito.
     
As mulheres executavam esse trabalho de joelho no chao,fazendo movimento de trás para diante com as ancas pelo que provocam nos homens que as observavam desejos sexuais, o termo “wacuveque’ quer dizer: depressa rapidamente. Deste modo, havia a crença que o referendo remedio aplicado no pénis apos o corte do prepúcio daria ao rapaz grande desejo pelas mulheres.
Nas regiões orientais, mais próxima da orais o tambor (ekalawe) obedecido as instruções do operador, retena a acção dos ajudantes e do padrinho do iniciando, há sons para que a fila se desloque lentamente, sons para marcha, sons para correr, para tomar a casa, para lamber o mel, finslmente para o corte de prepúcio.
Para evitar que os outros rapazes dançam os gritos, os tambores soam internamente, e, por cima das árvores estão empoleirados alguns homens que imitam os zumbidos das abelhas.
Se durante a operação e circuncidando urinava ou defecava de dor ou de medo era obrigado a conspurcar-se para mas tarde, relações normais com a esposa.
A partir corte do prepúcio os rapazes circuncidados recebem o nome de alukhu, termo particularmente honroso e dignificante, usado na vida social como afirmação de palavra da honra. Durante a caminhada os jovens vão cantando o refrão ou repetem asa canções entoadas pelos adultos.
     
Vimos já que algumas a partida para o mato se faz ante s da dança da “mwanamá” a que estes se executam durante a noite nas proximidades do recinto da iniciação. Quando assim é os presentes que foram participar nela retiram para as aldeias, as mulheres principalmente não mais poderão voltar aquele local antes de terminadas de as cerimónias. Esta dispersão faz-se de um modo violente e deixam de tocar. Então os dançarinos desfazem a roda, rompem e desenfreada algazarra, correm por entre os bambus e vergastadas, e avançam um contra os outros acostando-se mutuamente e clamando oravo!... oravo!... (isto é abelhas!.. Abelhas!). Aturdidas por aquela guerra feroz, as mulheres presente debandam em fuga desordenada para suas casas pois que de contrário seriam perseguidas pelos homens. É de realçar que os iniciandos não participam na dança e que se mantem silenciosos no outro barracão

Considerações Finais

O grupo atribui as considerações finais presente trabalho que, as culturas dos povos Sena, Nyungwe/Nhúngue e EChuwabo/Chuabo, suas tradições cultual-identitárias assemelham mas, não na totalidade, os povos Sena, Nyungwe/Nhúngue e Chuabo etnologicamente são atribuídos estas designações por serem falantes das línguas dos mesmos nomes respectivamente.
Apesar da globalização as culturas dos povos em pesquisa recebem as forças de mutação global, mas elas não substituem, por completo, as identidades culturais específicas nos alguns arredores dos centros urbanos.

Referência Bibliográfica

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Martins, Manuel dos Anjos. 1991. Elementos da língua Nyungwe. Missionários Combonianos. Roma.
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http://1verse.com/project/nyungwe-nt The Nyungwe New Testament

Grupo Étnico do Povo Macua-Lomue da Zambezia (Pebane)



O GRUPO ÉTNICO MACUA-LOMUÉ

O distrito de Pebane

1. Situação geográfica  

O distrito de Pebane localiza-se no Nordeste da província da Zambézia, sendo limitada a Norte pela Província de Nampula através do distrito de Moma, a Sul com o Distrito de Gilé, a Oeste com os Distritos de Ile e Maganja-da-Costa e a Este pelo Oceano Índico.
Com uma superfície1 de 10.086 km2 e uma população recenseada em 2007 de 185.33 habitantes, o distrito tem uma densidade populacional de 18.20 hab/km2.
A relação de dependência económica potencial é de aproximadamente 1:1, isto é, por cada 10 crianças ou anciões existem 10 pessoas em idade activa.

1.2. Clima, Relevo e Solos

O clima do distrito é predominantemente do tipo “Tropical chuvoso de savana (AW)”, com duas estações distintas, a estação chuvosa e a seca. A precipitação média anual está na ordem de 1.286 mm e a evapo-transpiração de referência média anual de 1.514 mm.
A maior queda pluviométrica ocorre no período compreendido entre Dezembro de um ano a Abril do ano seguinte (75 a 80%), variando significativamente na quantidade e na distribuição quer num mesmo ano, quer de ano para ano. As precipitações são fortemente influenciadas pela proximidade do mar.
Geomorfologicamente o Distrito é dominado pela planície sedimentar de cobertura arenosa na faixa costeira e pelos sedimentos consolidados do Soco do Precâmbrico no interior, sendo ambas unidades interceptadas pelas linhas de drenagem natural onde ocorrem os sedimentos mais recentes – estuarino-marinhos na faixa costeira e aluvionares no interior. A faixa costeira compreende ainda solos arenosos amarelados, esbranquiçados modificados pelo hidromorfísmo. Mais para o interior, predominam solos residuais do Soco Precâmbrico derivados de rochas ácidas e básicas.

1.3. Infra-estruturas

O distrito de Pebane é servido por transporte rodoviário e marítimo. Nenhuma das vias rodoviárias do distrito beneficiou de obras de reabilitação, mas apenas de alguns trabalhos de manutenção periódica nas estradas que ligam a sede a Maganja da Costa, via Mocubela, e a Mulela.
A reabilitação de estradas terciárias terá um impacto importante em vários sectores de actividade, intensificando a circulação de bens e pessoas, a comercialização agrícola e o escoamento do pescado.
O distrito tem 3 aeródromos (1 inoperacional). O Porto de Pebane não está operacional.
O distrito tem uma cabina telefónica instalada na Vila sede, o que permite comunicações para qualquer parte do mundo. Da Administração da sede do distrito para os Postos Administrativos, as comunicações são feitas via rádio.
O acesso à água potável é uma necessidade ainda não coberta em todo o distrito, havendo comunidades que se deslocam até 12Km até à fonte mais próxima. Em algumas comunidades, poços e furos, equipados com bombas manuais, garantem água durante todo o ano.
Para abastecimento da população em água potável, o distrito tem 159 fontes (38 inoperacionais). Importa referir que a maioria destas fontes está concentrada na Sede do distrito e PA de Mulela, havendo por isso um desequilíbrio em relação ao PA de Nabúri que apenas possui 3. Este desequilíbrio justifica-se pelo facto de a ponte que liga a sede daquele Posto ter sido destruída durante o conflito armado e só ter sido reabilitada em 2002.
Este distrito sofreu uma guerra de desestabilização, tendo destruído grandes edifícios do governo, contudo o distrito é dirigido por um administrador distrital e seus três chefes dos postos administrativos que compõem o distrito nomeadamente (Mulela, Nabúri e Vila do distrito), segundo a actual divisão administrativa.
O distrito postações distintas, a estação chuvosa e a seca. A precipitação média anual está na ordem de 1.286 mm e a evapo-transpiração de referência média anual de 1.514 mm.
A maior queda pluviométrica ocorre no período compreendido entre Dezembro de um ano a Abril do ano seguinte (75 a 80%), variando significativamente na quantidade e na distribuição quer num mesmo ano, quer de ano para ano. As precipitações são fortemente influenciadas pela proximidade do mar.
Geomorfologicamente o Distrito é dominado pela planície sedimentar de cobertura arenosa na faixa costeirsui vias de acesso aceitáveis, ou seja razoáveis, visto que é terra batida. Beneficia de rede de telefonia móvel (Mcel) e o canal televisivo da TVM.
No território do distrito de Pebane não existem caminhos de Ferro, nem estradas alcatroadas, o distrito sentiu as acções da guerrilha anti-revolucionaria com ataques e incêndios de casas e aldeias inteiras nas proximidades da sede do distrito. O estado de guerra que se viveu em Pebane deixou marcas indeléveis no seio da comunidade; obras destruídas, muitas mortes, epidemias de fome e doenças criando-se um estado de miséria generalizada.
Do ponto de vista religioso, a população do distrito pode dividir-se em três grandes grupos; religião tradicional Africana, o Islão e o Cristianismo. Há também uma minoria de outras religiões, mas a maior parte dos religiosos encontram-se inseridos no Islamismo, esta religião teve maior predominância neste distrito devido a influências dos árabes, durante as suas rotas marítimas.

Características gerais do povo Macua-lomué

2.1. Situação geográfica

O povo macua-lomué vive, actualmente numa grande área do norte de Moçambique, com cerca de 300000 Km2 abrange parte das províncias de Cabo-delgado, Niassa, Nampula e Zambézia. A região conhecida tradicionalmente por Macuana ou wanphula, é delimitada a norte pelo rio Rovuma, a leste pelo oceano Índico, a sul pelo rio Licungo nas proximidades do rio Zambeze e a oeste pelo rio Lugenda.

Este povo surge a partir da divisão de uma árvore chamada macua, devido a existência de varias zonas com o povo Macua, houve sempre a necessidade de se deslocar este povo para vários cantos do país, e cada local onde se instalava o povo Macua era chamado por outro nome, portanto este povo é vasto podemos encontrar nos distritos de Mecanhelas (Niassa), Malema, Ribaué, Murupula, Moma (Nampula); Ile, Gilé, Alto- Molocué, Gurué e Pebane (Zambézia).

2.2. Origem do povo Macua-Lomué

Há várias interpretações sobre a etimologia, significado e escrita da palavra (macua), desde há hipótese de que é palavra injuriosa (equivalente a selvagem, barbaro, não-civilizado), até à afirmação de que significa de Goa (= Makoa). Os lomués são povos oriundos de Macua, segundo a história, diz-se que a sociedade Macua está ligada a mitos; sobre a origem do mundo e do homem. Eles aprontavam o monte Namuli situado no distrito de Gurué (Zambézia), com 2419m de altura.
Segundo a tradição, os primeiros homens depois de serem criados por Deus, nas grupas da serra de Namuli; eles organizavam grandes viagens ate as planícies descendo por vários caminhos e na medida que se multiplicavam iam-se repartindo, dando origem a vários grupos macua compõe o Lomué.

Este grupo é conhecido também por Lomué; que tradicionalmente ELOMUÉ, dentro dos Lomué existem vários subgrupos como: Amalessane, Amole; Amulima, Amaloa, Ahabo, só para citar.
Os lomué caracterizam-se pela forma de articulação das palavras, tradicionalmente usam a vogal (A) para designar o grupo de animais e (E) para designar os objectos; por exemplo: Atitio ou Atata (tio), Atxo (pessoas); Eipha (enxada), Ecadeira (cadeira).

Algumas designações que surgem para designar o povo Macua:
  • Mulomué- Falante de Lomué; 
  • E- Lomué - O lomué; 
  • A-Lomué - Os Lomués


Organização Sócio-político

As formas de ordenação política e as expressões de direito são muitas e correspondem à múltipla variedade das culturas. Na sociedade macua-Lomué os grupos pertencentes a macua-lomué não vivem isoladamente, e nem nascem sozinhos, mas sim, procuram manter um colectivo ou vizinhança, de modo que os mitos continuem a ser aceites, ou seja, evita a mistura segundo o enigma que diz: Para ele ser é fundamental estar em relação com outros, por isso, para conhecer o povo macua-lomué é preciso conhecer adequadamente as suas estruturas políticas e sociais, onde se encontram as relações de humanidade.

3.1. Autoridade

O povo macua-lomué é constituido por uma justaposição (unidades) de união entre famílias formadas por grupos de parenteses unilineares, uxorilocais e exogâmecas. O parentesco mergulha as raízes no ordenamento da natureza humana, mediante o qual o homem se divide em macho e fêmea, mutuamente atraídos na relação sexual necessária para a geração e continuidade da espécie. O parentesco é um vínculo que liga os indivíduos entre si com vista à geração e à descendência.

3.1.1.O NLOKO (Linhagem)

Linhagem é um grupo de pessoas descendentes de um mesmo antepassado cujo vínculo de descendência é genealogicamente demonstrável e não pressuposto miticamente. Uma vez que o povo Macua-Lomué tem uma linhagem materna, considera-se o NLOKO, como o conjunto de unidades uterinas (ERUKULO), em que todos os membros se consideram irmãos legítimos (NLOKO NIMOHA). O mais velho dos NLOKOS, é considerado como NIKOLO e é o dirigente da família que se forma. Entre os Macua-Lomué, grupo de família NLOKO é o homem mais velho aquem manda noutros membros de familias. Este homem, é o tio materno chama (ATATA).

3.1.2. O NIHIMO (Tribo)

De acordo com BERNARDI tribo é um conjunto de pessoas unidas por descendência, ou é um grupo de população distinto, por parte dos seus membros e dos outros com base em critérios culturais regionais. Na sociedade Macua-Lomué todos os membros de unidades uterinas (NLOKO) usam o mesmo apelido familiar, chamado (no plurar, MAHIMO) que deriva do antepassado fundador e transmite-se matriliarmente.
Ter o mesmo NIHIMO significa pertencer ao mesmo NLOKO que implica fundamentalmente três coisas:
  • Um aspecto afectivo entre os membros: as relações de respeito íntimo;
  • Etiqueta própria: leis convencionais e procedimentos assumidos pela comunidade;
  • Aspectos jurídicos: deveres e direitos positivos e negativos, que orientam as mutuas relações.


3.1.3. O MWENE

É o chefe máximo do povoado, este é responsável da comunidade, celebra todos os eventos importantes da região, é o coordenador do conselho constituído pelo grupo dos tios mais velhos de cada família (ATATAS).
A direcção do chefe máximo é acompanhada por dois grupos importantes, os velhos e a irmã, mais velha do chefe máximo.

3.2. Símbolos de autoridades

O chefe máximo do povoado (MWENE), é visto como a estrutura mais poderosa daquela comunidade, por isso tem características que o identificam durante o processo de governação, podemos aqui destacar:
Um chapéu de cor preto, feito de pano ou tecido de caqui;
Alguns instrumentos feitos a partir da pele de animais de grande porte;

3.3. Formas de poder

O poder do chefe máximo do povoado, é represeMapa de Moçambique com o destaque a província da Zambézia, (distrito de Pebane)ntativo e ao mesmo tempo simbólico, porque:
É representativo, no caso em que o rei é empossado pelo antigo rei, ou seja quando for uma sucessão do tio (antigo MWENE), para o sobrinho (novo MWENE).
É simbólico, no caso em que não existe uma sucessão, acontece quando o antigo MWENE por motivos de força maior deixa o poder e nesse caso quando o MWENE não tiver um sobrinho materno, mais velho capaz de dirigir o povoado.

3.4. Formas de casamento (Matrimónio)

3.4.1. O casamento na sociedade macua-lomué

De acordo com BERNARDI, O matrimónio é uma relação sexual entre dois indivíduos de sexo diferente socialmente sancionada com vista à procriação e à inculturação dos filhos; RADCLIFFE-BROWN define matrimónio como uma ordenação social por meio da qual a criação recebe uma posição legítima na sociedade determinada pelo parentesco.

O casamento é um acontecimento que ocupa lugar importante no ciclo da vida. É a terceira fase do ciclo. Pelo casamento o homem e a mulher, formando a célula mais elementar na sociedade, colocam-se ao serviço directo e concreto da transmissão da vida. Desta maneira integram-se na corrente vital participando na função dos antepassados, intermediários entre a fonte original e os homens. O casamento tem o seu funcionamento neles e a sua raiz esta na fonte vital. O tal propósito, o pensamento macua-Lommué é muito claro: OTHELANA ORIMWA MAKHOLO (o casamento fundamenta-se nos antepassados).

O homem e a mulher macua-Lomué anseiam pela descendência e fazem o possível para conseguir. O primeiro objectivo da união matrimonial é a transmissão da vida. O homem e a mulher ao casarem – se colocam-se, a serviço da vida e aos instrumentos comunitários através dos quais a comunidade recebe a vida como um dom e transmitem-na como uma homenagem a que já lhe deu.

3.4.2. Factores económicos 

Apesar de não existir, na sociedade macua, a instituição do dote matrimonial, o factor económico do casamento é importante. Neste caso, quem enriquece é a família da noiva, porque é esta que cresce com um novo membro. Com os serviços que o noivo prestará, com o seu trabalho, a família da mulher crescerá, não só em número como economicamente.

3.4.3. A Exogâmia 

Os macuas-lomué devem casar-se fora da linhagem, pelo que o casamento é exogâmico. É proibido casar dentro do próprio grupo familiar entre aqueles que tem o mesmo apelido. Por isso a tradição aconselha-se muito cuidado em saber, desde o início, a que linhagem pertence cada um dos futuros cônjuges para não incorrerem na proibição do casamento entre pessoas da mesma linhagem.

3.4.4. Residência Matrimonial

Dependendo das normas matrimoniais podem ser patrilocaMapa de Moçambique com o destaque a província da Zambézia, (distrito de Pebane)l ou matrilocal segundo tenha de residir junto do pai ou da mãe. Mas em virtude de os dois termos não especificarem se se trata do pai e da mãe do marido ou da mulher e deixam grande margem de incerteza. De acordo com FIRTH, os termos virilocal e uxorilocal, são as mais adequadas para designar a residência matrimonial.

Na sociedade Macua-Lomué O novo agregado familiar, que nasce com um casamento, constrói a própria casa perto da residência dos pais da noiva. Normalmente se situa na localidade dos grupos de famílias matrilineares da noiva. Por isso podemos falar do modelo de residência uxorilocal e, mais concretamente, matrilocal.

3.5. Concepção de família

Os grupos de parentesco mais vulgares são a família, a linhagem e tribo.
A família é um menor grupo do parentesco e da sociedade. De acordo com BERNARDI as formas de família são múltiplas e a organização social não é tão rígida. A natureza da família apresenta-se complexa em todas as suas formas quer pelos elementos que a compõem quer pela multiplicidade de funções que desempenha e das estruturas que apresenta.
3.5.1.Formas plurais de família
São múltiplas as formas de família, sendo as mais típicas:
Família nuclear ou conjuntas: 
É simples e elementar porque, na ordem do parentesco não há um grupo tão essencial tratando-se de um grupo mínimo e irredutível, e fundamenta-se na união entre homem e mulher casados.
Família doméstica: 
O fulcro desta unidade social é a cooperação, inclui os adstritos a serviços especiais.
Família Composta: 
É oposta a família nuclear e dá relevo à contenção da fixação genealógica.

Família poligínica: 

Articula-se sobre o pluralidade de mulheres corresponderem a exigências sociais e sobretudo económicas, o prestígio que o homem obtém com mais mulheres de autoridade e de poder na sociedade, mas constitui também exibição e forma de riqueza, na divisão do trabalho, cabe à mulher o trabalho dos campos e muitas mulheres produzem muita colheita.
Família poliândrica: Possui uma estrutura totalmente diversa, que se articula sobre a pluralidade do marido.

Os Ritos 

Ritos são experiências vividas para garantir a maturidade das crianças, os ritos podem ser quentes ou frios.
Quentes são aqueles que se repetem muitas vezes durante a vida e frios são aqueles que não se repetem ou seja acontece apenas uma vez.

4.1. O nascimento (oyariwa)

O nascimento de uma criança é um dos acontecimentos mais importantes da sociedade macua-lomué. Ela é desejada e esperada pelos pais, responsáveis, membros da família e por toda sociedade porque todos amam a vida e desejam que esta continua. Um filho significa para família e para a sociedade, a esperança concreta que a vida não acaba, é o sinal que os antepassados continuam a ser intermediários entre a fonte da vida e a sociedade. Por isso o nascimento de uma criança é motivo de festa.

4.2. A confissão ritual das faltas (OLAPHULE)

Se o parto difícil ocorre-se às praticas rituais de emergência. Em primeiro lugar, uma das anciãs assistente ao parto fala com o marido para que este ponha as coisa de casa( especialmente a roupa) ao ar livre e adopte, mesmo na maneira de vestir, uma atitude de tristeza. Se os problemas continuam, então deve consultar-se imediatamente o especialista de averiguação e realizar-se o rito de confissão das faltas (olaphulela). É um rito de auto-critica e de conciliação.

A parturiente deve confessar as instrutoras (anamuku). Neste rito a parturiente pode insultar o marido e descobrir as desavenças conjugais ocultas. Nascido a criança, a instrutora principal (Namuku) corta o cordão umbilical e acta o umbigo. Imediatamente as anciãs lhe dão o primeiro banho com água preparada nesse momento e nunca com anterior existente. O primeiro banho é ao mesmo tempo uma medida de higiene e um rito de purificação.

4.3. Anúncio

No nascimento de uma criança as mulheres gritam ELULU para manifestar a alegria pelo êxito do parto. O grito pode ter maior ou menor duração, conforme o sexo da criança: será mais prolongado se se tratar de uma menina, porque a menina no futuro ira aumentar a família e não abandonara a casa; pelo contrário o grito por um menor terá menor duração, porque este quando for adulto abandonará a sua casa para beneficiar o crescimento de uma família distinta da sua.

4.4. O rito de agregação 

Depois de 8 dias do parto e de cicatrizar a ferida do umbigo, realiza-se uma cerimónia designado por fogo apagado (OTXIPIHIA MORO). Neste processo dá-se banho ritual (ORAPIHIWA MWANA), cortam o cabelo (OKWATXA MAHI), e assim a criança tira-se para a sociedade em geral e é atribuído o nome (OVAHIWA NSINA).

4.5. Proibições rituais (MWIKHO)

Há uma série de proibições rituais que os pais do recém-nascido têm de observar, desde a data de nascimento até ao dia dos ritos do fogo apagado. Este período de tempo vai normalmente de um ano e meio a dois.

As proibições mais importantes são:
  • Os pais do recém-nascido não podem fazer sexo durante todo o período de amamentação;
  • O pai não pode entrar dentro da casa para ver a criança antes de se realizar a cerimónia de fogo apagado;
  • A mãe deve abster-se durante todo o período de amamentação da criança;
  • A mãe não deve acender fogo, cozinhar para o marido e preparar-lhe água para o banho antes do fogo apagado;
  • Durante este período de tempo, todas anciãs devem abster-se de relação sexual;
  • As pessoas solteiras não podem pegar na criança até ao referido dia cicatrização do umbigo.


4.6. O desmame

Depois de a criança começar a caminhar, realizam-se ritos de desmame. Este rito consiste, fundamentalmente num banho da criança, a qual assistem todos os membros da família chefe da aldeia (MWENE), o chefe da linhagem e as restantes famílias. É um rito de purificação de integração definitiva da vida. Depois do banho e ungido todo corpo da criança com óleo.
Durante este rito, o chefe da aldeia faz uma exortação aos pais da criança sobre o bom comportamento. A mãe oferece uma galinha como agradecimento. A partir deste momento, os pais da criança podem começar as relações conjugais íntimas e todas as actividades familiares e sócias.

4.7. Iniciação masculina

Com o nascimento e os ritos correspondente a criança não fica completamente integrado na sociedade. O seu verdadeiro nascimento social ocorrerá com a participação nos ritos de iniciação em macua (WINELIWA).
A sociedade macua-lomué ritualiza a passagem da adolescência para o estado adulto em ambos sexos havendo ritos próprios para os rapazes (OCILEIWA), para raparigas (EMWALI).
Pela iniciação, o indivíduo passa da infância a idade adulta, participando nos ritos de iniciação, o jovem adquiri a maioridade e toma consciência da própria identidade e do lugar que lhe compete na comunidade, pode tomar parte do pleno direito em todas actividades da sociedade (casar-se, participar nos sacrifícios tradicionais, sentar no meio dos adultos, falar publicamente nas reuniões dos adultos).
Os ritos de iniciação são, em primeiro lugar, ritos de separação, o jovem abandona a sua infância anterior, em segundo lugar são ritos liminares pelos quais o indivíduo vive uma particular transformação da sua personalidade em clima de separação física e social; e, em terceiro lugar o rito de incorporação na situação normal da sociedade.

4.7.1. Ritos preliminares (sua preparação)

A criança, entre os 8 e 12 anos os responsáveis das respectivas famílias, reúnem-se e discutem, e apresentam a questão ao chefe da aldeia, para que comunique ao chefe máximo (MWENE), por sua vez o mwene anuncia oficialmente a celebração dos ritos de iniciação, os rapazes (OCILEIWA). O MWENE antes de anunciar reúne com os seus conselheiros chefes da linhagem, os anciãos e outras pessoas importantes (MAKOLO). Normalmente o rito de iniciação dos rapazes nas sociedades macua- lomué faz-se em cada dois ou três ano conforme o número de rapazes que existe no povoado. O tempo mais é no inverno calhando nos meses de Julho, Agosto e Setembro, tempo de frio e seco.
4.7.2. Inauguração da iniciação (corte de cabelo)
Na manha do dia indicado para o inicio dos ritos, na casa de cada um dos iniciados realiza-se o rito preliminar do cabelo (OTXEMIWA). Faz se sacrifício tradicional pelos representantes da família (ATATA) e o chefe da linhagem.
Refeições comunitárias
É uma constituição da festa, prepara-se papa de farinha de milho (EXIMA) sem açúcar e sem sal, mais outra refeição com carne de galinha, de cabrito, de Javali ou antílope.

4.7.3. O fogo novo

Neste processo, acaba a festa os iniciados e os seus familiares reúnem-se em casa do chefe do chefado (MWENE) e passam a noite a volta da fogueira celebrando o começo da iniciação, cantam e dançam.
Marcha para o acampamento no dia seguinte os iniciados (ALUKHU) acompanhados pelo chefe da família (ATATA) e outros familiares próximos, pelo MWENE, instrutores (ANAMUKU), o direito a iniciação, os padrinhos (AMOLE), deixam a aldeia e encaminham-se para o acampamento chamado (ONVERANI), um lugar escolhido e escondido na mata.
Cada família reúne-se três dias para passar os dias de festa de iniciação.
Ao terceiro dia os iniciados tomam a refeição ritual no acampamento chamado EPILIKO. Os remédios para iniciação e os instrumentos necessários para os ritos de iniciação ficam nos centros das instalações do acampamento, num monte de areia, esses medicamentos tem nome simbólico de cauda (MWILA).

4.7.4. A circuncisão

No dia seguinte, a refefeição ritual do EPLIKO, o MWENE, com uma vara nas mãos (MUKOSI) bate no recepiente contendo remédios, que se encontra no centro de acampamento, cada LUKHO acompanhado pelo seu sobrinho aproxima-se do local. Ao chegar ao local, indicado pelo chefe, o padrinho coloca-se com o afilhado junto do director da iniciação e os restantes ajuntantes, com o movimento rápido, coloca-se ao chão o rapaz. Nesta posição, o circunsizante corta uma parte do percúcio. As gotas de sangue são recolhidas imediadamente e posto num lugar apropriado para posteriorimente prepara-se uma comida ritual.
O recém-circunsizante, senta-se no chão com as pernas abertas e as mãos faz o pó para ajudar a cicatrizar a siua ferida. Passado algumas horas o padrinho coloca no pénis do seu afilhado uma rodilha ou uma argola de folhas e amara-lhe com uma corda atráz como forma de fixar. Esta argola tem o nome de EKHARA. Seguem os cânticos de intruções denominadas de NTHURKWE, já conhecidos por parte dos circunsizantes.
Terminado rito, dirigem-se ao local chamado NAMUHAKA, para recebem os ritos (conselhos de boa conduta), tais ritos são:
Iniciação nas tradições do povo, ritos de origem e histórias do povo, lendas, personagens importantes.
Iniciação a vida: é a iniciação do comportamento social.

4.7.5. As proibições rituais (MWIKHO)

Os jovens que não participam nos ritos de iniciação devem observar as seguintes proibições durante tempo de iniciação:
  • Não pode tomar banho nem lavar-se, com excepção banhos rituais;
  • Não usar roupa que usam normalmente, de facto vestem-se de farrapos e andam quase nus;
  • Tem de se abster de alimentos preparados por mulheres;
  • Não podem comer alimentos, que pela sua cor, tamanho ou forma possa assumir um valor simbólico;
  • Não podem se afastar do acampamento.

4.7.6. Proibições aos pais.
  • Não podem tomar banho durante o período de iniciação;
  • Não podem se vestir com elegância nem roupa nova;
  • Não podem pentear;
  • Devem comer comida sem sal;
  • Não podem manter relações sexuais durante esse período.

4.7.7. Imposição de nome (OVAHYWA NSSINA) Mapa de Moçambique com o destaque a província da Zambézia, (distrito de Pebane)

O nome indica ao mesmo tempo um estado ´´ dimensão essencial ´´e uma missão (dimensão funcional), e pode relacionar com a anterior vida do jovem, com algum acontecimento familiar ou com algum pressentimento.
A imposição do nome confere por ordem de prioridade ao chefe de família ou pais do jovem, e outras pessoas particularmente relacionada com a família. Entre a pessoa que dá o nome a que recebe restabelece-se uma relação de facto e respeito e observa-se uma determinada etiqueta. Os nomes da comunidade Macua-Lomwe, tem um determinado valor cultural que podemos s esquecer. O nome identifica a pessoa que liga-se ao mundo dos antepassados e indica também uma missão na vida.

4.7.8. Intrusão

As instruções que os rapazes recebem durante o período que passa no acampamento NVERA, são os seguintes:
Aprender a caçar;
Aprender certos trabalhos que lhes serviram no futuro;
Aprender a enterrar os mortos.

4.7.9. Proibições rituais

As proibições gerais (MWIKHO), nesta fase dos ritos de iniciação são as seguintes proibições:
Silêncio: os rapazes não podem falar com os chefes do acampamento.
Abstinência alimentar: Proibição de consumo de mel, ovo e comidas com sal ou pimenta. Também não podem comer peixe de cor escura e nem carne de galinha.

4.7.10. Ritos finais

Acabada a iniciação, há destruição do acampamento (NVERA).
O director da iniciação ordena a realização dos últimos ritos e encerramento da iniciação.

4.8. Iniciação feminina

Paralelamente aos ritos de iniciação masculina, existem na sociedade Macua-Lomué, ritos próprio para a iniciação feminina chamada EMWALI. Estes ritos diferenciam-se dos ritos de iniciação dos rapazes pelo facto do conteúdo das instruções, pelas pessoas que nela participam, pela data de celebração, pela sua duração, pelo seu lugar e pela menor solenidade das cerimónias.
Até a realização dos ritos, rapariga macua-lomwe fica ligada estreitamente a mãe, num ambiente de total confiança e liberdade, sem discriminação sexual e à margem de vida social

A primeira educação, básica e genérica ao mesmo tempo sugere-se na ordem do tempo e da importância, a iniciação propriamente dita na vida sócia, ou seja a verdadeira passagem de menina para jovem (EMWALI), trata-se da descoberta e assimilação da rapariga e faz a sua própria personalidade e do plano acesso à vida social.

4.8.1. Ritos preliminares

A iniciação da rapariga inicia desde pequena ate progrida para participar nos ritos propriamente ditos da iniciação não é necessariamente obrigatório que ainda não tiveram a primeira a primeira menstruação. Por vezes juntam-se raparigas que ainda não tiveram a primeira menstruação com outras já menstruadas, neste caso, durante a instrução (IKANO), são divididas em dois grupos.
Os ensinamentos consistem fundamentalmente, no seguinte:
Explicar sobre o facto fisiológico da menstruação e sobre cuidados higiénicos que a jovem devem ter de então para diante.
Como se pode comportar perante a sociedade (durante a menstruação não pode falar com os homens, deve respeitar os adultos e, de modo particular as instrutoras, comporta-se com o público.
A forma de vestir durante esse tempo, a rapariga não pode usar roupa de todos os dias, muitos menos a roupa do dia de festa, também não se pode embelezar;
A alimentação – deve abster-se de certos alimentos, como o caso de ovo (NOTXE), e peixe (MUKOPO). Deve comer papas de milho (EXIMA) mal cozidas com folhas de mandioca e feijão.
Trabalhos caseiros: preparação de comida, limpeza de casa, evitar fazer refeições para os homens, na altura de menstruação.
Proibições de relações sexuais tratando-se duma rapariga já casada, ficam proibidas as relações sexuais durante o tempo da iniciação.

4.8.2. Período de entrada

O ritual usado é normalmente, o que se usa para entrada para os rapazes na iniciaçaão.

4.8.3. Instrução (OLAKA)

A instrução, que começa com a primeira fase de iniciação é que continuará ápos a conclusão dos ritos, principalmente a no período de gravidez e na celebração de casamento, agora, nesta segunda fase é mais intensiva, adquire uma totalidade mais formal e abrangente a educação em todos os aspectos da vida. Esta educação, para além de preparar as jovens para assumirem a sua responsabilidade na sociedade, promove nelas legalidades às instruções comunitárias. As mestres, no seu discurso educativo usam linguagem simbólica, acompanhada de gestos, enigmas, cânticos formas literárias que ajudam as jovens a fixar os ensinamentos recebidos.
As instruções para além de iniciarem os jovens para a vida sexual, educam-nas e preparam-nas para a vida familiar e social.

As raparigas aprendem a cumprimentar os adultos, os superiores e todas as outras pessoas. Sempre que tenha que entregar alguma coisa ao marido, aos pais e as outras pessoas mais importantes devem fazê-los de joelhos e com as duas mãos. É lhes ensinado que não podem casar com pessoas da mesma linhagem, sendo obrigadas a conhecerem o apelido (NIHIMO) do jovem com quem se querer casar. Aprendem como se deve comportar na vida conjugal, neste campo, devem ter cuidado em abster-se de relações sexuais durante a menstruação porque é proibido por tradição.
Para evitar o marido de que estão menstruadas, deixam na cama uma porcelana de sementes vermelhas, quando acabam a menstruação, deixa na cama uma porcelana de sementes brancas. Desta forma, o marido sabe como se deve portar para não transgredir as leis tradicionais.

4.9. Morte

Chegando o momento da morte, quando o moribundo (MULIPA OLUWELA) espira, o familiar que anteriormente lhe humedecia a boca diz aos parentes “ deixou o coração” (OHIA MURIMA). Observa-se então uma figura de estilo que equivale dizer “morreu”. Então fecham-lhe os olhos e a boca, colocam-no deitado na esteira, coberto com um pano. Imediatamente as mulheres presentes gritam e choram de dor. Os homens não devem gritar nem chorar, podem somente soluçar.
Passados alguns momentos leva-se o cadáver para o banho duplo, com valor higiénico e purificador. Normalmente isto é feito com água quente preparada no momento. As mulheres encarregadas de o fazer são as familiares mais próximas do defunto e as amigas da família.

4.9.1. Preparação do inteiro

O tio materno mais velho do falecido ou, na falta deste, o que segue por ordem de importância na família assume a responsabilidade de organizar a cerimonia para a realização dos ritos fúnebres, distribuindo os encargos entre os familiares e pessoas mais chegadas: uns encarregam-se de tratar do cadáver com varias abluções e unções e de o envolver num pano grande e numa esteira; outros preparam a cova, no lugar indicado pela família; outro grupo prepara a cova, no lugar indicado pela família; outro grupo prepara a comida para todos os que participara no funeral e a água para as abluções.

4.9.2. O lugar da sepultura

A sepultura do cadáver faz-se, normalmente, num lugar escolhido pelo tio materno mais velho do defunto fora da aldeia, afastado dos caminhos, entre as árvores do bosque.
Quando se trata de chefe da aldeia ou do régulo, costuma escolher-se um lugar especial, perto da sua casa. A cova (MAHIYE) tem um ou dois metros de profundidade, conforme a idade do falecido (mais ou menos, conforme o defunto é mais velho ou mais novo), tem no fundo ou ao lado esquerdo, conforme os gostos, um nicho ou cova secundaria, que é o lugar exacto onde é deposto o cadáver.